Andei preocupado toda a manhã. Não consegui, até há minutos, fazer o download do Programa do XVII Governo Constitucional e a leitura dos jornais (via Internet) não me informou devidamente sobre uma notícia que a TSF transmitiu logo no noticiário das 7 e me assustou imenso. Disse a locutora de serviço que o Programa de Governo aprovado ontem dispunha que haveria exames no fim do 4º e 9º ano de escolaridade. Aí, assustei-me! Seria possível? Quando consegui finalmente ter o documento, fui ver o capítulo II – Novas Políticas Sociais, e embora a leitura fosse rápida, como primeira leitura que foi, não encontrei lá conteúdo para a notícia – e sosseguei.
O que o programa de governo diz é que vai insistir no aperfeiçoamento do sistema de avaliação nacional por provas aferidas, medida com a qual estou absolutamente de acordo e que já começara a ser ensaiada no governo do Eng.º Guterres, e, em relação ao sistema de avaliação dos alunos fala em alterá-lo, “de modo a que a aplicação de critérios rigorosos na transição entre fases ou anos de escolaridade e na conclusão de ciclos de estudos tenha por efeito útil a aplicação de programas de apoio à recuperação dos alunos com dificuldades de aprendizagem, e não a sua exclusão pura e simples ou a relegação para vias desqualificadas”. Não percebo como é que um noticiarista consegue transformar este texto e declarar que vão existir exames nacionais no 4º e 9º anos! (Bom, eu não li mais nada do programa, mas não acredito que exista noutro local tal informação).
Eu ainda não referi, neste blog, o novo governo. Estava muito na expectativa (e de algum modo continuarei a estar). Tinha esperança de, na educação, ver retomar uma linha que fora abruptamente partida em 2002. É evidente que um programa aponta metas – não especifica percursos, e não estou absolutamente tranquilo em relação a alguns pontos do programa, que merecem a minha concordância, mas só podem ser desenvolvidos com um trabalho muito sério, e sobretudo com grande inteligência para que os professores os sintam como seus. Por exemplo, a ligação educação – formação que é apontada para os jovens (bem como a valorização das componentes técnicas e vocacionais no 3º ciclo da educação básica) pode vir a ser uma chave que permita quebrar o abandono precoce, mas a meta dos 18 anos, sendo atrevidamente positiva, será alcançável?
Também quanto ao ensino superior a leitura rápida me satisfez: tranquiliza quanto a Bolonha e aponta caminhos que todos nós reconhecemos que têm de ser adoptados pelas Universidades, adaptando-se à realidade na qual vivem. Vou estar atento à prática dos Ministérios da Educação e da Ciência, Investigação e Ensino Superior. Como, aliás, a tudo o que este governo fizer. Não sou original ao dizer que esta oportunidade de ouro não pode ser perdida.
4 comentários:
Permita-se-me a partilha das expectativas, não quanto às metas (mais ou menos pacífico) mas quanto aos percursos.
Ou seja, onde serão definidas as medidas preconizadas? implementadas sabemo-lo (?) que serão na escola, mas a sua definição partirá de onde? do ministério? das direcções regionais? da escola? dos conselhos locais de educação?
A apropriação das práticas e da mudança educativa que deixa implicita no texto é um elemento fundamental para que a mudança seja efectiva e o percurso seja local, balizado por um contexto nacional e contextualizado em realidades educativas tão diversas quantas as situações que temos neste país.
A minha grande expectativa vai no sentido dos contextos a privilegiar (das lógicas de acção, tão do agrado de vários docentes da UM) na implementação destes percursos de formação, de qual o caminho e, por consequência, qual a relação que o Estado pretende estabelecer, definir com a Escola.
No que respeita ao ensino superior o programa do PS tem o seu grande calcanhar de Aquiles no que se adivinha ser a manutenção do governo corporativo das nossas instituições. Esperava-se propostas mais arrojadas.
PJ
A M. Cabeça
Estamos de acordo, esperar para ver... Defensor da autonomia, reconheço que tem limites e que o Estado não se pode demitir de traçar linhas de rumo, mas têm de ser as comunidades locais (no plural, para não as reduzir à educativa, que pode ser assumida numa concepção estreita lesiva para a comunidade como um todo) a responsabilidar-se pela execução dos planos educativos. E aí, claro, os professores têm de ter um papel dominante mas não dominador...
A PJ
Vamos esperar para ver - vão ser revistos os diplomas legais. Mas não tenho, em relação a esse ponto, grandes expectativas de mudanças profundas. E talvez neste momento seja preferível que as alterações não são sejam muito grandes.
A José Gil
A avaliação aferida é normalmente como diz, feita em uma amostra de escolas e não na sua totalidade. A generalização só terá sentido se foram salvaguardadas as consequências - ou seja, os professores perceberem o seu interesse para rectificarem, se for caso disso, os seus processos de ensino-aprendizagem. Não sei que critérios irão ser seguidos, mas o meu aplauso à medida não tem a ver com qualquer obtenção de estatísticas.
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