Na Única do Expresso de ontem (nº 1686) há uma reportagem intitulada “Uma escola de sucesso”, na qual é dado aos leitores conhecer a a escola de Canas de Senhorim (a mesma da luta pela elevação a concelho). É uma escola com uma estrutura não muito vulgar, porque sendo uma escola básica com 2º e 3º ciclos tem também o ensino secundário. Não a conheço: mas para a leitura da reportagem fui dar uma vista de olhos ao site (o que qualquer dos meus leitores pode fazer agora). Claro que fiquei bem impressionado, e satisfeito com o que li e vi. Só lamento que existam poucos exemplos como este, porque seriam possíveis em situações semelhantes (escolas relativamente pequenas em meios sociais que vêem a escola como coisa sua, com uma liderança forte). A chave do sucesso está destacada em caixa: “Temos problemas, só que trabalhamos bastante” – palavras do presidente do conselho executivo. O que as escolas precisam é de professores que sejam profissionais e tenham consciência da sua autonomia. Professores que não se sintam funcionários. Pouco importa que, depreciativamente, os apelidem de “carolas”: o entusiasmo quando se trabalha envolve sempre alguma carolice (o Houaiss, agora na moda, ensina-me que carola é sinónimo de devoto, por extensão apaixonado).
Curiosamente, a autora da reportagem, Rosa Pedroso Lima (um nome de há muito ligado às coisas da educação) escreve a dada altura (tenho de copiar porque não há ligação…):
Os pedagogos e os responsáveis políticos que dirigem o Ministério da Educação vêem nas lideranças fortes e num projecto educativo específico, uma chave para o sucesso das escolas. Em Canas de Senhorim, porém, não há memória de terem saído vistos quaisquer membros dos Gabinetes da Educação.
Ora bem, a liderança forte não precisa, na verdade, de estar à espera que Lisboa (ou Coimbra, a DRE da zona) faça visitas de estímulo… Eu defendo que exista acompanhamento às escolas quando necessitem – mas visitas de cerimónia, quantas menos melhor...
Agora, o reverso da medalha… Lida a reportagem, deparei-me com uma página e uma coluna com a assinatura da jornalista Mónica Contreiras, coluna intitulada “Um imenso recreio”, onde ressuscita um célebre (e infeliz) Manifesto para a Educação da República e onde refere Guilherme Valente, Carlos Fiolhais, Fátima Bonifácio e volta a referir o “eduquês”. Foi pena que, nessa prosa, tivesse prevalecido o “jornalês” ao jornalismo… (É evidente que este tema não deve ser abordado a brincar, e um dia destes terei de me demorar mais sobre ele).
3 comentários:
A questão da autonomia e do seu exercício é das mais curiosas do panorama sistema educativo português.
O poder político (ME) anda há anos a dizer que as escolas devem ter autonomia, e até aprovou legislação a propósito. No entanto, não permite o exercício real dessa autonomia ao desdobrar-se em ofícios e despachos que coarctam esse mesmo exercício.
As escolas (algumas) andam há anos a exigir autonomia. No entanto, são poucas as que exercem sequer a autonomia legalmente permitida (que é reduzida). Há algumas que exercem essa autonomia, mas à revelia das decisões ministeriais, que não à revelia da lei.
Espero ter feito uma radiografia rápida da situação.
Este panorama merece bem uma análise mais cuidada e pormenorizada.
Para adkalendas
Penso que a sua radiografia é muito correcta. Há, na verdade, contradições no discurso e na prática (quer do ME e de quem o representa quer dos professores). Já pensava um dia dedicar algum tempo ao tema, e a sua proposta apenas reforça essa minha ideia. Fica pois prometido.
O problema desses exemplos (bons) é que não procuram visbilidade, desenvolvem-se em prol dos alunos, sem que os seus mentores procurem o mediatismo.´Essa é uma das razões que por vezes sou crítico quando se escreve a "torto e a direito" mal da nossa classe. Acreditoi que existam muitos e bons exemplos pelo nosso país fora. Estou à três anos em Ponta Delgada e iniciei-me, porque sou natyral de lá, como p+rofessor e tenho encontrado bons (infelizmente também maus) exemplos de Escolas. Pena é que no nosso país se procure enfatizar o que está mal, sem dar o exemplo do bom que se faz. Bem haja o seu artigo Sr. Professor.
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