Todos os dias, de segunda a sexta-feira (excepto no período das férias escolares) recebo na minha caixa de correio a versão digital do The Daily Iowan, o jornal dos estudantes da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos da América, onde fiz os estudos pós-graduados que me levaram ao doutoramento em Educação. Descobri há pouco tempo a existência da edição online do jornal e, na qualidade de antigo aluno, solicitei a assinatura, que é gratuita. Perguntar-me-ão o que me leva a estar interessado, hoje, sobre o que se passa numa pequena cidade do Midwest norte-americano, a mais de 10 000 quilómetros de distância. Decerto, apenas a memória afectiva que guardo dos três anos e meio em que lá vivi, e que foram não só muito agradáveis como muito estimulantes. Iowa City (a cidade onde a Universidade de Iowa se instalou e que, no fundo, a justifica) é um local espantoso para quem quer trabalhar num ambiente sossegado e bonito. Mesmo a rudeza do clima (cheguei a suportar 26º C negativos!) é compensada com o conforto existente em todos os lugares.
Por outro lado, a Universidade de Iowa, com os seus mais de cento e cinquenta anos de existência, uma das reputadas universidades norte-americanas, é excelente. Não me arrependi por tê-la escolhido. Fiz um doutoramento tardio – o que tem inconvenientes e vantagens. Inconvenientes para a carreira académica, vantagens porque a maturidade entretanto adquirida facilita muito o percurso escolar. Durante alguns anos, andara enredado com a hipótese de me doutorar em Portugal, mas descobri que era incompatível gerir o meu tempo profissional (ao tempo, membro da Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Faro) e o de investigador, que procurava estudar o rendimento escolar dos alunos do Ciclo Preparatório TV comparando-os com colegas que seguiam o ensino directo. Por isso, a dada altura tentei, e consegui, obter condições que me proporcionassem (e à minha Mulher) o doutoramento nos Estados Unidos da América. Em 1984 havia estado na Universidade do Colorado, em Boulder, onde trabalhava Richard Kraft (hoje reformado), um professor que em 1978-79, como bolseiro da Fullbright, fez uma primeira avaliação dos cursos de formação de professores na Universidade do Minho, e ficara com óptima impressão do estilo de vida universitária dos Estados Unidos. Talvez tivesse havido uma outra razão, menos explícita, para preferir o continente americano a uma eventual estadia na Europa (por exemplo, Inglaterra). É que eu precisava de um corte absoluto com o que estava fazendo. Durante cinco anos, dedicara-me à ESE de Faro. Como costumo dizer, quando cheguei a Faro e me levaram à Quinta da Penha (onde se ia construir o Instituto Politécnico) vi um largo campo onde se abriam valas. Quando saí, em finais de 1988, deixei um edifício que era a “minha” escola, no qual vivia das 8 da manhã até às 8 da noite, com dedicação total. E era esse “minha” que tinha de acabar: estava a confundir a gestão com a posse.
E, surpreendentemente, aconteceu o que eu próprio julgara difícil: meia dúzia de dias depois de chegar a Iowa, deixei de pensar em Faro, na ESE, deixei de me preocupar com o que estaria a acontecer do outro lado do Atlântico. E mergulhei na nova realidade, trabalhando com gosto, aproveitando ao máximo as excelentes condições que existiam. Fui assim, pouco a pouco, criando laços afectivos com o meio em que vivia, e por isso leio o The Daily Iowan acompanhando as notícias como se lá estivesse. Sei, por exemplo, que hoje há possibilidades de queda de neve e a temperatura mínima será de 15º C negativos; que os grandes armazéns Younkers, no Old Capitol (centro comercial que fica a cem metros do College of Education e da Biblioteca onde passava a maior parte do meu tempo) vão fechar; que este ano a equipa de futebol da Universidade se classificou em primeiro lugar no campeonato das Big Ten, ex-aequo com a Universidade de Michigan, e que em basquetebol quer os homens quer as mulheres estão a fazer bons campeonatos… Bravos Hawkeyes!
Ao percorrer hoje as notícias do jornal, achei que devia deixar registado no meu blog as primeiras memórias de Iowa. Porque outras se seguirão, estou certo.
Por outro lado, a Universidade de Iowa, com os seus mais de cento e cinquenta anos de existência, uma das reputadas universidades norte-americanas, é excelente. Não me arrependi por tê-la escolhido. Fiz um doutoramento tardio – o que tem inconvenientes e vantagens. Inconvenientes para a carreira académica, vantagens porque a maturidade entretanto adquirida facilita muito o percurso escolar. Durante alguns anos, andara enredado com a hipótese de me doutorar em Portugal, mas descobri que era incompatível gerir o meu tempo profissional (ao tempo, membro da Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Faro) e o de investigador, que procurava estudar o rendimento escolar dos alunos do Ciclo Preparatório TV comparando-os com colegas que seguiam o ensino directo. Por isso, a dada altura tentei, e consegui, obter condições que me proporcionassem (e à minha Mulher) o doutoramento nos Estados Unidos da América. Em 1984 havia estado na Universidade do Colorado, em Boulder, onde trabalhava Richard Kraft (hoje reformado), um professor que em 1978-79, como bolseiro da Fullbright, fez uma primeira avaliação dos cursos de formação de professores na Universidade do Minho, e ficara com óptima impressão do estilo de vida universitária dos Estados Unidos. Talvez tivesse havido uma outra razão, menos explícita, para preferir o continente americano a uma eventual estadia na Europa (por exemplo, Inglaterra). É que eu precisava de um corte absoluto com o que estava fazendo. Durante cinco anos, dedicara-me à ESE de Faro. Como costumo dizer, quando cheguei a Faro e me levaram à Quinta da Penha (onde se ia construir o Instituto Politécnico) vi um largo campo onde se abriam valas. Quando saí, em finais de 1988, deixei um edifício que era a “minha” escola, no qual vivia das 8 da manhã até às 8 da noite, com dedicação total. E era esse “minha” que tinha de acabar: estava a confundir a gestão com a posse.
E, surpreendentemente, aconteceu o que eu próprio julgara difícil: meia dúzia de dias depois de chegar a Iowa, deixei de pensar em Faro, na ESE, deixei de me preocupar com o que estaria a acontecer do outro lado do Atlântico. E mergulhei na nova realidade, trabalhando com gosto, aproveitando ao máximo as excelentes condições que existiam. Fui assim, pouco a pouco, criando laços afectivos com o meio em que vivia, e por isso leio o The Daily Iowan acompanhando as notícias como se lá estivesse. Sei, por exemplo, que hoje há possibilidades de queda de neve e a temperatura mínima será de 15º C negativos; que os grandes armazéns Younkers, no Old Capitol (centro comercial que fica a cem metros do College of Education e da Biblioteca onde passava a maior parte do meu tempo) vão fechar; que este ano a equipa de futebol da Universidade se classificou em primeiro lugar no campeonato das Big Ten, ex-aequo com a Universidade de Michigan, e que em basquetebol quer os homens quer as mulheres estão a fazer bons campeonatos… Bravos Hawkeyes!
Ao percorrer hoje as notícias do jornal, achei que devia deixar registado no meu blog as primeiras memórias de Iowa. Porque outras se seguirão, estou certo.
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