A divulgação dos resultados do PISA
2018 proporcionou, como tem sido habitual nas anteriores apresentações, reacções
diversas. Não dou grande importância aos resultados, porque num projecto desta
envergadura, envolvendo alunos de 79 países muito diferentes entre si (cerca de
600 000 num universo de 32 000 000, ou seja, uma amostra de
cerca de 2%), as probabilidades de ocorrerem erros são grandes (aliás isso é
assumido no estudo). Contudo, atendendo a que o PISA tem já uma história e é
possível detectarmos tendências nos resultados (subidas, descidas, estagnações),
vale a pena determo-nos na sua análise.
Se é patético vermos ministro e ex-ministro
quererem ser “vencedores” face aos resultados, é razoável que responsáveis pela
educação no país assinalem as curvas que no gráfico mostram uma melhoria.
Os documentos disponibilizados,
quase 1100 páginas, os quais podem ser obtidos via Internet, para além de
ficheiros de dados dos questionários aplicados, mostram a qualidade da
investigação; mas o interessado em obter apenas informação relevante para Portugal
pode descarregar a “Country Note”, onde, em 10 páginas, se faz o retrato da nossa
situação.
Todos sabemos que as preocupações
da OCDE são essencialmente económicas, e a sua aposta na educação, com a criação
em 1968 do CERI, Centre for Educational Research and Innovation, não faz mais
do que salientar o valor específico que a educação tem para o desenvolvimento
económico.
Por isso, não deixou de me
impressionar a leitura do prefácio ao volume I do Relatório (PISA 2018 Results.
What students know and can do), da autoria do Secretário Geral da OCDE,
Angel Gurria. Em duas páginas perspectiva o futuro e fá-lo de um modo
assertivo.
Transcrevo alguns passos (tradução
minha).
“Durante o mesmo período (de 2000 a 2015) as exigências definidas
para os skills de leitura ao nível dos 15 anos mudaram completamente. O
smartphone transformou a maneira como as pessoas leem e trocam informação; e a
digitalização teve como resultado o aparecimento de novas formas de texto, que
vão desde o texto curto ao longo e complexo. No passado, os alunos podiam
encontrar respostas fáceis e únicas às suas dúvidas em livros de texto
cuidadosamente feitos e aprovados pelo governo, e podiam confiar nessas
respostas como verdadeiras. Hoje, encontrarão centenas de milhar de respostas
às suas dúvidas online, e têm de decidir quais as certas e quais as erradas. Ler
não é mais obter informação; é construir conhecimento, pensar criticamente e concluir
juízos bem fundamentados.”
“Aquelas coisas que são fáceis de ensinar são, hoje, também fáceis
de digitalizar e automatizar. Na época da Inteligência Artificial (IA)
necessitamos de pensar seriamente sobre como ajudar o desenvolvimento de pessoas
excepcionais, e como podemos compatibilizar a IA dos computadores com os skills
cognitivos, sociais e emocionais, e os valores das pessoas. A IA ampliará boas ideias e boas práticas do mesmo
modo que ampliará más ideias e más práticas – ela é, eticamente, neutra. Contudo,
a IA é conduzida por pessoas que não são neutras. É por isso que a educação, no
futuro, não diz respeito apenas a como ensinar as pessoas, mas também a como
ajudá-las a desenvolver uma bussola segura para que possam navegar num mundo
cada vez mais complexo, ambíguo e volátil”.
“Evidentemente,
todos os países têm excelentes estudantes, mas muito poucos têm sido capazes de
fazer com que todos desenvolvam o seu potencial ao mais alto grau. Alcançar uma
maior equidade em educação não é apenas um imperativo de justiça social, é também
uma maneira de usar com maior eficiência os recursos existentes, desenvolver os
skills que potenciem o crescimento económico, e promover a coesão
social. Para aqueles que têm o conhecimento e skills certos, a digitalização
e a globalização têm sido libertadoras e excitantes; para aqueles que estão
insuficientemente preparados, essas vertentes podem significar um trabalho
vulnerável e inseguro, e uma vida com poucas oportunidades de melhoria”.
Como
pessoa interessada na educação não posso deixar de concordar com a posição do
secretário-geral da OCDE. Como tantos outros, nestes momentos de incrível desenvolvimento
tecnológico, ele chama a atenção para factos que os responsáveis pelos sistemas
educativos não podem ignorar. Creio que há sinais positivos em relação ao nosso
país: apesar do muito “ruido”, está em curso uma mudança que a pouco e pouco pode
contaminar quem é contra ela (infelizmente, mesmo professores).
Uma
última nota. Não sei qual a melhor tradução para o termo “skill”. Skill
não é capacidade, nem habilidade, nem destreza. É uma mistura de tudo isso. Por
essa razão desde sempre tenho escrito e verbalizado skill, como muitos
têm escrito, e verbalizado, feedback. Sem problemas.
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