Faz hoje cinquenta anos estava na Parede, “a banhos” (estou
a recuperar uma forma caída em desuso, creio, mas muito vulgar nesses tempos
quando se queria significar férias na praia). A Parede foi, e é, uma localidade
celebrada justamente pelo alto teor de iodo, benéfico para a saúde dos ossos.
Recordo-me perfeitamente do dia da inauguração da ponte que,
nessa altura, foi baptizada como ponte Salazar, e mais tarde rebaptizada como
ponte 25 de Abril. Não fui, como tantos outros, tentado a ser dos primeiros a
passar a ponte – no primeiro dia não houve lugar a qualquer pagamento – mas, ao
principio da noite, não resisti a avançar na marginal até que tivesse uma visão
global da nova estrutura, iluminada, o que de facto aconteceu. A cidade ganhara
uma imagem adicional indiscutivelmente agradável. Só bastante mais tarde fiz a
minha primeira passagem em direcção ao sul.
A ponte sobre o Tejo era uma velha aspiração. Hoje é difícil
imaginar a nossa vida sem ela: quantas vezes se punha o problema de ir para o
sul, dando a volta por Vila Franca de Xira, ou sujeitar-nos às filas para
atravessar o rio no ferry para Cacilhas? O desenvolvimento das localidades a
sul de Lisboa (e que eu conheço bem: nasci na Cova da Piedade e vivi dez anos
no Seixal) deve-se à ponte, ainda que ela se tenha tornado, ao longo dos anos e
mesmo depois da abertura da ponte Vasco da Gama, que pouco tráfego tirou à
ponte 25 de Abril, uma dor de cabeça para quem tem de a atravessar todos os
dias.
Leio hoje no Expresso
(“25 de Abril para sempre?”) que a ponte será eterna, dada a solidez da sua construção.
Eterna? Provavelmente não… mas que foi uma obra de grande qualidade, isso é
inegável.
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