Decidi esperar durante algum tempo antes de comentar mais sobre o novo Ministro da Educação. Fui-me apercebendo, talvez sem muita surpresa, que alguma coisa estava a mudar e por isso valia a pena esperar para ver se esses indícios de mudança se clarificavam. Após a muito publicitada audiência parlamentar de ontem (2 de Agosto) chegou o momento de me pronunciar.
Entre parêntesis, neste últimos tempos tenho-me dedicado a visitar alguns blogs que tecnicamente são apenas sobre temas de educação, em viagens que por vezes têm tanto de cómico como de dramático. Sei que os professores, ou, pelo menos, muitos professores, têm sido sujeitos a um stress constante e que por isso perdem com facilidade a lucidez. Mas o que se lê nas caixas de comentários é por vezes desconcertante. Muitos que fizeram profissão de fé por Nuno Crato (agora é que “isto” ia entrar nos eixos…) esqueciam-se que na novela do “eduquês” não entravam só os maléficos dos especialistas de educação, mas também os professores “românticos” e preguiçosos que aproveitavam para não ensinar (os “facilitistas”).
Ora bem, o que tem, então, acontecido? Nuno Crato amaciou. Ele próprio explicou a um Prof. Marcelo que o olhava embevecido que uma coisa era criticar quando se estava fora e outra era sentir o peso da governação. O homem que queria implodir o Ministério percebeu que não o podia fazer (por acaso, gostava de saber o que ele, Ministro, disse aos directores-gerais na sua apresentação… tanto mais que tem continuado a trabalhar com eles, por enquanto). Percebeu também que os professores que servem o Estado são funcionários públicos e como tal não pode tratá-los preferencialmente (daí o manter o sistema de quotas). E talvez tenha percebido, também, que sabe um pouquinho menos de educação, a todos os níveis, incluindo o da administração escolar, do que pensava.
Claro que manteve algumas das suas ideias, a começar pela dos exames. Mas ontem reconheceu duas coisas: que a psicopedagogia tem algum préstimo, quando a invocou (!) para fundamentar que um aluno que tenha muitos conhecimentos terá sempre bons resultados em exames; e que há algo de ideológico na defesa (e no ataque) aos exames. Talvez um dia se lhe consiga explicar que não é bem assim, e que a instituição escola, se servida por profissionais competentes e enquadrada numa comunidade interessada e colaborante, pode resolver com êxito a maior parte dos problemas postos por alunos com problemas de aprendizagem.
É certo que Nuno Crato vende a sua ideia de escola mais como o lugar onde se ensina do que o lugar onde se aprende. Aquela discussão de ontem sobre o papel do professor (o professor-treinador, o “coach” que emerge muitas vezes nos teóricos norte-americanos anti-Dewey) foi elucidativa. Há lugar para o coaching, em certas alturas? Diria que sim (pensemos nas Olimpíadas de Matemática…) Mas não como regra.
Depois, há o lirismo de pensar que uma hora de Português e Matemática a mais será remédio: mal não fará, no entanto, ressalvando apenas que a eliminação da área de projecto é um passo atrás (mas atenção, já tinha sido dado pelo anterior governo).
Quanto ao problema nº 1 do Ministro, a célebre ADD, é clero que é um ónus que Nuno Crato nem aprecia nem saberá muito bem como se desembrulhar dele… Seguirei com interesse os próximos capítulos deste romance, que reconheço começou mal com a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
Em suma: Nuno Crato ao vivo e como Ministro é mais aceitável do que Nuno Crato escritor e liberto de constrangimentos formais. Nota final: não teria sido possível encontrar um naipe de secretários de estado melhorzinho?
Sem comentários:
Enviar um comentário