2011/06/24

Lembrar... o passado

Tenho andado preocupado. Não só pela "crise" (e espero que não levem a mal as aspas; a crise existe, mas aplicada a tudo começa a ser um exagero), mas por um aspecto que veio ligado a ela. Ainda não sei, ninguém sabe, aliás, se a preocupação tem razão de ser. Talvez não tenha, mas pode ter. Refiro-me à nomeação do novo Ministro da Educação, o Prof. Nuno Crato.

Tenho por ele a consideração que devo ter por um colega que se tem distinguido pelas suas intervenções no âmbito da divulgação da ciência e tenho acompanhado também as ideias que tem sobre educação - que difunde em artigos de jornal, em entrevistas, e em livros, sendo "O Eduquês em Discurso Directo" o mais conhecido. Em relação a este ponto, as ideias de Nuno Crato sobre educação, sempre tive grande perplexidade.

Em primeiro lugar, confrange-me a maneira como ele se refere a quem se dedica às ciências da educação, sendo por vezes quase insultuoso, se considerarmos que se trata de colegas, dos quais pode discordar mas (pelo menos é a minha maneira de ver) devendo ser cortês nessa discordância.

Em segundo lugar, tenho de dizer que concordo com muitas das ideias de Nuno Crato. Em relação a outras, todavia, não poso deixar de as contestar. E é por isso que, pensando nele como Ministro, tenho de me interrogar.

Que tipo de "reforma" pretende ele concretizar? Que vai ela atingir? Quem vai ela afectar? Pelas suas palavras, até é um contrasenso ter aceite ser ministro de Educação, uma estrutura que acha deve desaparecer. Depois, o regresso a exames. Muito bem, vamos voltar a ter exames no 4º ano? e no 6º? A todas as disciplinas? Sempre defendi que deveriam existir exames de acesso ao ensino superior, e exigentes. Não acho mal que existam no final da escolaridade obrigatória, e no secundário. Penso que ao nível do básico não têm mesmo justificação, a não ser que se queira regressar a um passado de que tenho a minha memória: 3ª classe, 4ª classe, admissão ao Liceu, 2º ano, 5º ano, 7º ano... Mas isso foi há sessenta anos.

Uma vez que Nuno Crato chama em seu auxílio nomes de alguns especialistas, sobretudo norte americanos, não deve ignorar a existência de outros que têm ideias completamente diferentes... Penso por isso que é necessário um grande debate, e que as pessoas que como eu dedicaram quase toda a sua vida à educação não podem nem devem fugir a esse debate. Por isso regressei à Memória Flutuante, com a promessa de estar atento.

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