Desde Março suspendi a minha actividade como "blogger". Mas vou voltar - em breve.
Explicarei então as razões da minha ausência.
The past is malleable and flexible, changing as our recollection interprets and re-explains what has happened.... Peter Berger
2007/11/12
2007/03/26
Não é grave, mas…
Não é grave o resultado do concurso sobre o “maior português de sempre” – porque é um concurso, sujeito a todos os condicionalismos de consultas como a que foi feita. Mas… deve fazer pensar. E procurar compreender possíveis porquês. Sendo certo que quem tem hoje quarenta e mesmo mais alguns anos, não viveu nos tempos de Salazar e não se pode dizer que depois do 25 de Abril a sua figura tenha sido bem tratada, e que os mais velhos se dividirão entre saudosistas e opositores; sendo igualmente certo que neste segundo grupo ninguém pode ignorar o progresso enorme do país nos últimos trinta anos de democracia; porquê, então, esta ideia de que Salazar merece ser considerado o “maior português de sempre”? Alinho uma razão: o português gosta de quem exerça a autoridade, perdoando inclusivamente excessos derivados desse exercício, sobretudo quando emergem períodos de grande mal-estar, de confusão, numa palavra, de “bandalheira”.
A propósito: não será muito por isso que o actual primeiro-ministro, tão contestado nas ruas, continua a ser muito bem classificado pelas sondagens?
2007/03/08
Os cinquenta anos da Televisão em Portugal
Sem explicações para o silêncio.
Ao assistir, ontem, ao que se chamou “uma espécie de gala” da Televisão, revivi obviamente muito do que na minha vida se associa à TV. Quando começou o período experimental, em 1956, morava, com os meus pais, mesmo ao pé do parque de Palhavã onde funcionava a Feira Popular (de “O Século”…) e onde o mesmo período experimental decorria. Por dez tostões (um escudo, menos de meio cêntimo na moeda actual…) entrava na Feira, dava umas voltas, e ia olhando para os monitores que transmitiam o que se ia passando no estúdio, junto ao qual estava sempre uma pequena multidão. Confesso que não me lembro do dia 7 de Março de 1957. Claro que os meus pais não tinham televisão, que nessa altura tinha preços proibitivos. Contudo, não demoraram muito tempo a adquiri-la. Curiosamente, depois de me ter “emancipado” e ter casa própria, resisti muito tempo a comprar uma televisão, um pouco desconfiado, e com razão, dos seus efeitos na convivência familiar. A minha resistência quebrou com o regime: no dia 26 de Abril de 1974 (ou teria sido a 27?), logo pela manhã, fui a uma casa de artigos eléctricos na Praça de Londres e comprei uma Panasonic, portátil, para evitar montagem de antena. A televisão passara a valer a pena…
Quem exultou com a compra foi a minha filha (na altura com seis anos) que de há muito a desejava: ainda me lembro que quando lhe disse que ia comprar uma televisão ela abriu a boca de espanto (e não estou a fazer literatura, de facto abriu mesmo a boca!).
Não vale a pena dizer banalidades acerca do que a televisão representou e ainda hoje representa para o mundo. De facto, ela mudou o mundo, e hoje, ajudada por tecnologias cada vez mais sofisticadas, promete mudanças eventualmente ainda mais expressivas.
Gostei de ver a “gala”, ainda que registasse algumas faltas na memória dos 50 anos (mas não se podem reviver cinquenta anos em três horas). Quero deixar aqui aquela falta que para mim mais significado teve: o nunca se ter mencionado expressamente o papel da TV na Telescola, que desde 1965 até à década de 80 desempenhou um papel muito relevante no panorama educacional e que, na sua versão mais conhecida, era dedicada a alunos mas era vista por muitas pessoas que tinham tempo livre à tarde e seguiam as lições apresentadas.
2007/01/24
A. H. Oliveira Marques (1933-2007)
Quando entrei na Faculdade de Letras de Lisboa, em Outubro de 1954, Oliveira Marques começava o seu 3º ano do mesmo curso, o de Ciências Históricas e Filosóficas. Recordo-me dele, jovem como eu, nos claustros do velho convento de Jesus. Um ano mais tarde, Oliveira Marques começou a ser falado com respeito: ia fazer uma coisa raríssima, mas permitida, que era apresentar a tese (na altura, as licenciaturas compreendiam a redacção de uma tese original) no final do 4º ano. A esmagadora maioria dos alunos só depois do curso aproveitava o 5º ano para a elaboração da tese. E – posso dizê-lo – implicava um trabalho imenso ter de satisfazer a todas as disciplinas do 4º ano e, ao mesmo tempo, investigar e redigir a tese. Mas Oliveira Marques fê-lo, e em 1956 defendeu, com brilho, um trabalho que intitulou A Sociedade em Portugal nos Séculos XII a XV. Teve como investigador uma vida cheia e a historiografia portuguesa deve-lhe muito.
Nunca privei de perto com ele – fomos sempre colegas distantes. Mas sempre tive grande admiração pelas suas qualidades, e enquanto professor de história recorri muitas vezes aos seus trabalhos eruditos.
Leio no jornal a notícia do seu falecimento. Era dois anos e meio mais velho do que eu. É um sentimento estranho quando vemos partir quem foi nosso contemporâneo. É a vida...
2007/01/21
Bom senso…
Não penso, como Descartes, que o bom senso seja a coisa que no mundo é mais bem distribuída; e ao longo da vida tenho presenciado muitas situações em que o bom senso esteve ausente. Mas há casos tão flagrantes que ainda me fazem abrir a boca de espanto. O “inquérito” sobre violência doméstica que foi levado a efeito por questionário a alunos das nossas escolas, tal como foi noticiado, por exemplo, pelo Expresso de ontem (acessível apenas por assinatura), é um verdadeiro espanto. E mais espantosa ainda a reacção da coordenadora do projecto, ao que parece técnica do Instituto da Droga e Toxicodependência, Fernanda Feijão, quando acha que se “está a fazer uma tempestade num copo de água”.
A aplicação de questionários em várias situações de investigação é justificável, mas a sua elaboração tem necessariamente de ser muito cuidada e ter em atenção todos os princípios de ética e de deontologia face ao processo que é objecto de estudo. Por outro lado, a falibilidade das respostas a questionários deve levar os seus organizadores a não cederem à tentação de inserir questões de difícil ou inverosímil apreciação por parte dos respondentes. Quem pode esperar dados fiáveis de uma questão como a que indaga se o pai (ou substituto, veja-se a delicadeza!) “obriga a mãe a fazer vida sexual com ele contra a vontade dela”?
Onde estavam os responsáveis do Ministério da Educação quando deram luz verde à aplicação do questionário? Onde andou o bom senso?
2007/01/19
Mudança
Preparo uma mudança – por ora, só do meu gabinete… Dentro de alguns dias, o Instituto onde ainda conservo o meu gabinete vai mudar-se das suas instalações, fora do campus universitário, para um edifício novo, construído em Gualtar, e no qual estarão também os colegas do Instituto de Educação e Psicologia. Agrada-me a mudança – embora afastado da leccionação, de vez em vez irei ao meu novo gabinete e gosto de estar no ambiente multifacetado do campus, encontrar colegas de outras escolas, ver outros alunos.
O problema é decidir o que fazer com os montes de papel que acumulei em mais de dez anos. O espaço em Gualtar é menor do que aquele que tenho aqui. O problema é que tenho sempre uma enorme dificuldade em desfazer-me de documentos do passado: por isso adiei, até hoje, o começo da tarefa. Tenho mesmo de deitar para o lixo, ou melhor, enviar para a reciclagem, todo esse papel, com algumas excepções, claro; e isso obriga a um certo cuidado na análise do que me passa pelas mãos…
Se tivesse tempo, era capaz de digitalizar muita coisa, mas não tenho (nem tempo e talvez nem paciência). Vou meter mãos à obra, e estou certo que nesta tarefa a minha memória flutuará, ao gosto deste blog, com muita frequência… Aqui é uma tese de mestrado que me agradou especialmente e da qual não me quero desfazer; ali, é um dossier de um grupo de trabalho complicado que, por isso, quero igualmente conservar… Ou um jornal com uma notícia que no tempo foi importante… ou uma fotografia… E, sinal dos tempos, uma disquette de 1.44 guardada num envelope da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança da qual não tenho mesmo memória alguma…
Apesar de tudo, não vai ser desinteressante este trabalho!
2007/01/15
E esta, hein?
Acabo de publicar a justificação para não ter acesso a comentários, e que vejo? Que nesse post já são permitidos... Bom, agora só falta conseguir eliminar os vocábulos esquisitos (como "postado" por publicado)...
Uma justificação
Durante a minha ausência houve alterações na estrutura do blogger. Acontece que, ao “migrar” para o novo modelo, perdi a funcionalidade de permitir comentários, embora uma exploração mais ou menos cuidada do “template” permita ver que tal funcionalidade está lá. As minhas fragilidades informáticas não me permitiram, até agora, resolver o problema, mas espero consegui-lo, mais dia menos dia…
Com este post, apenas quero que os meus leitores saibam que não me tornei autista, repudiando comentários, mesmo correndo o risco (que já aconteceu) de ter de ler um ou outro bem pouco próprios.
2007/01/11
Quando o telefone toca…
O meu telefone fixo já toca pouco… Os telemóveis alteraram profundamente os padrões de comunicação que eram normais e a verdade é que se contam pelos dedos as chamadas que tenho de atender pela via tradicional. Mais: agora, quando o telefone toca, tenho praticamente a certeza que se trata de uma chamada indesejável, como são todas as que procuram vender qualquer coisa, oferecer o impossível ou, simplesmente, inquirir numa sondagem (porventura, a menos má de todas elas…).
Ao princípio, era paciente, ainda ouvia os primeiros minutos, mas percebi que quanto mais ouvisse mais difícil se tornava acabar a conversa a bem; assim, mal percebo que quem está do outro lado foi apenas à lista telefónica caçar o meu nome e número, arrumo a questão com um “Desculpe, mas não estou interessado” e normalmente isso chega. Se a interlocutora (normalmente é uma senhora) tenta contradizer, digo-lhe que compreendo que ela está a ganhar a sua vida e que por isso anote que fez a chamada e que o potencial cliente declarou o seu não interesse, mas não mace mais. E isso põe ponto final.
Outro dia, porém, a senhora que fazia a chamada nem assim parou, e como estava a propor a compra de uns livros de história de arte, achou por bem perguntar: “Mas o senhor C. não gosta de história de arte?” Aí o verniz estalou um pouco – mas não terei resvalado para a má educação. Apenas lhe fiz ver que a insistência não seria a melhor estratégia para certos “clientes”, desejei boas tardes e desliguei.
E fiquei a pensar no tempo em que não havia telemóveis e o telefone tocava mais vezes – mas nos maçava muito menos!
2007/01/08
A propósito dos 225 anos do Martinho da Arcada: os meus cafés de Lisboa
O Martinho da Arcada nunca foi um café que frequentasse – ficava longe dos sítios por onde passava. Nos anos 50, enquanto estudante nos últimos anos do liceu, houve dois cafés nos quais era assíduo: o Monumental e o Monte Carlo, ao Saldanha. Curiosamente nunca me fixei num só, ia num dia a um, noutro dia a outro. Na zona do meu liceu – o D. João de Castro – descia algumas vezes à Junqueira com colegas para uma bica no Estrela da Manhã (que creio ainda existe).
Há cinquenta anos Lisboa tinha muitos cafés. Quando entrei na Faculdade de Letras, e atendendo à sua relativa proximidade do Chiado, passei a ir algumas vezes à Brasileira, mas não deixei de frequentemente tomar a bica no Chave d’Ouro, no Martinho (o “outro”, ao pé do teatro Nacional, que desapareceu…) ou no Nicola, e, no verão, passei muito tempo de conversa com colegas nas esplanadas da Avenida da Liberdade. Mais tarde procurei com alguma frequência o Império (que reabriu há pouco tempo), quase sempre associado a uma ida ao cinema ou ao teatro…
Não fazendo bem uma “vida de café”, e muito de acordo com a época, muitos passos da minha existência estão ligados a cafés. Ou pastelarias… Recordo que um dos primeiros posts da Memória foi para evocar a Cister, na Rua da Escola Politécnica. Por falar em pastelarias, na zona da minha residência também parava muitas vezes na Sequeira & Sequeira (esquina da Duque d’Ávila com a Avenida da República), que ainda existe, e na Ideal das Avenidas (ao Campo Pequeno), que acabou. Na Baixa, ir à Nacional era frequente…
Assisti, depois, ao encerramento progressivo de quase todos os cafés – só o Nicola continua, daqueles que mencionei – transformados em agências bancárias.
Tenho algumas saudades desses tempos em que passava horas sentado a uma mesa, conversando, lendo ou escrevendo, a troco de uma bica e um copo de água, e onde era raro ver entrar alguém para beber um café ao balcão…
Outros tempos, claro. Mas não fica mal ter saudades…
2007/01/07
Aditamento…
Dizia ontem que só percebi que a náusea tinha passado quando comecei a ser capaz de rir perante situações que há meses me perturbavam. Ou, dito por outras palavras, quando em vez de me revoltar quando a televisão veiculava as declarações do senhor presidente do governo regional da Madeira, soltava uma sonora gargalhada, porque era capaz de as considerar mais hilariantes do que uma anedota inesperada; ou ainda, quando em vez de me irritar por causa das enormidades que lia ou ouvia por parte dos (e das) intelectuais de serviço que tecem comentários sobre a educação, sorria e me limitava a uma serena e filosófica atitude displicente de quem é capaz de tudo tolerar – uma atitude próxima dos estóicos, que ensinaram que não devemos sofrer em relação a tudo o que de mau aconteça independentemente da nossa vontade…
Retornado ao meu habitual bom humor e optimismo (ainda que ainda não totalmente adaptado ao meu novo papel na sociedade…) decidi então regressar, com a ideia de que talvez me faça bem. Vamos a ver!
2007/01/06
O fim da pausa
Não sabia se ia demorar um mês ou um ano, apenas sabia que um dia teria de voltar. Esse dia acontece hoje. Preciso explicar porquê? Penso que vale a pena, até para que eu próprio compreenda o impulso que me levou a abrir a pasta “Memoflu” onde guardo todos os meus posts, arrumar os de 2006 e abrir este documento ainda sem título.
Ter-me-á passado a náusea que levou à pausa? Estava na altura a passar um momento menos bom, e o meu normal optimismo sofrera um profundo abalo. Senti demais a aposentação, mesmo que dourada pelo termo jubilação, ou até por isso mesmo. Na minha área de interesse maior, a educação, tinha de admitir que as coisas corriam mal, de ambos os lados das querelas que todos lembramos. E não me sobrava ânimo para argumentar. Antes que treslesse, decidi parar.
Como costuma acontecer em outros aspectos da minha vida, a minha decisão implicou o corte total – a paragem não foi só da Memória mas também contemplou as visitas que habitualmente fazia aos blogs habituais, mesmo aos amigos.
Ao longo destes quase seis meses, com tempo livre (ainda que relativo: tenho teses a orientar e um ou dois projectos em curso), pude reflectir e chegar à conclusão que devia regressar. Percebi, em meia dúzia de ocasiões, que havia quem lesse e de algum modo apreciasse o que escrevia. Sinceramente, nunca foi esse um objectivo quando lancei a Memória: mas o descobri-lo foi importante.
Faltava então um passo para regressar: que a náusea já não existisse. E percebi que ela tinha passado quando comecei a ser capaz de rir perante algumas das situações que, há meses, me perturbavam.
Por isso regresso. Com vontade de concluir alguns temas que deixei em aberto e sempre pronto a deixar fluir a minha memória. Com vontade de voltar a visitar os blogs amigos e participar, sempre que oportuno, nos comentários.
E como estamos ainda no princípio do ano, um feliz 2007 para todos!
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