2005/07/02

Os estágios na formação de professores


Casualmente, escrevi recentemente uma série de posts lembrando o que, há quarenta anos, fora o meu estágio. O tema “estágios” ganhou, entretanto, actualidade por o Ministério da Educação ter decidido alterar o sistema em vigor para a formação de professores do 3º ciclo do ensino básico e secundário. Dessa alteração apenas é sabido que os alunos das Universidades, ao entrarem em estágio (5º ano das licenciaturas) deixam de ser contratados e por isso não recebem vencimento. Outras alterações, que penso serem inevitáveis, como complemento desta, não as conheço. Neste momento, apenas quero deixar duas notas.

Primeira nota. Os alunos dos cursos de formação de professores do 1º e 2º ciclo do ensino básico e os de educadores de infância, no seu último ano (que não se chama de estágio, mas onde a prática acompanhada em escolas tem um papel importante) não recebem qualquer vencimento. Há, portanto, uma certa dualidade de critérios, porque em qualquer dos casos, os futuros professores continuam a ser alunos das escolas de formação.

Segunda nota. Há mais de dez anos que digo que estamos a formar professores para o desemprego (a Ministra, ontem, teve a coragem de reconhecer isso mesmo). È evidente que existe algum desperdício de formação, embora se possa dizer que a requalificação dos professores sem escola seja possível, já que a um diplomado pelo ensino superior se deve dar crédito às suas capacidades de adaptação. Mas tenho encontrado ex-alunas a fazer propaganda de produtos no Supermercado, ou nas caixas registadoras. O que não é, verdadeiramente, o que pode esperar quem acabou uma licenciatura. A verdade é que não tem havido racionalidade na abertura de cursos (e aí, mea ou nostra culpa, as visadas são as Universidades).

O tema merece desenvolvimento noutras perspectivas, e prometo que a ele voltarei. Breve!









3 comentários:

Fernando Reis disse...

A questão é que as Universidades levam tanto tempo a reagir e a alterar as suas prioridades de formação...
Há quantos anos que venho dizendo que se estão a formar professores para o desemprego, e continuavam a abrir-se novos cursos para o ensino.
Quanto aos estágios sem vencimento, não me parece uma boa ideia. Se a tendência é de diminuir o tempo de atribuição de um grau universitário, porque razão se prolonga o tempo de formação sem qualquer vencimento?
Parece-me um paradoxo inconcebível. E se os estagiários do 1.º Ciclo não recebiam vencimento, deviam receber algum, como os outros.
Mais uma vez, a tendência é nivelar por baixo, por quem tem menos e menos recebe.
É muito triste e muito frustrante, ao fim de uma vida de estudo.

Luís Aguiar-Conraria disse...

Concordo, genericamente, com o que diz no seu 'post' e também com os excelentes comentários de PJ.

Não concordo, de forma alguma, com um ataque as autonomias universitárias, que, em minha opinião, precisam de ser reforçadas e não reduzidas.

Penso que há um ponto que ainda não foi referido. Responsabilizou-se as universidades, o ministério da educação, mas ainda não se disse que a culpa também é dos estudantes que escolhem cursos sem qualquer critério. Há muito que se sabe que certos cursos não têm saídas profissionais e ninguém obriga os alunos a escolhê-los.

Há uma forma de obrigar as universidades a preocuparem-se com as saídas profissionais dos seus alunos: associar o seu financiamento à performance profissional dos seus ex-alunos. Por exemplo, uma percentagem dos impostos dos ex-alunos (alumnae) iria directamente para a sua universidade. Assim queria ver qual era a universidade que deixava os seus alunos ir trabalhar para caixas de supermercados.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Agradecendo a todos os comentários, vou tentar provocar mais debate sobre um tema que tem muitas implicações e que me diz muito como profissional, porque toda a vida tenho estado mais ou menos envolvido na formação de professores. Como sempre, não pretendo ter razão, mas sim expor a minha razão...