2012/07/15

EM DEFESA DE BOLONHA

O “não assunto” de Relvas pôs em evidência a Universidade Lusófona e a maioria dos comentadores aproveitou para atribuir a Bolonha (leia-se: ao que se chamou o “processo de Bolonha”, que originou em muitos países europeus uma reformulação dos estudos superiores) a razão do desconchavo da creditação de 32 das 36 unidades curriculares do curso a que o ministro se candidatou. Nos dois últimos anos da minha vida académica estive, por dever de funções, muito ligado ao processo de reestruturação dos diferentes cursos na Universidade do Minho. Não assisti já à sua implementação¸ mas fiquei com a impressão de que, sendo embora os princípios gerais em que se apoia excelentes, iria ser difícil que professores e alunos conseguissem, sem grande esforço, concretizar o que esses princípios supõem. Muito do que tenho ouvido de colegas com quem por vezes troco impressões é que na verdade o espírito de Bolonha tem estado muito ausente. Ora um dos princípios que considero excelentes é precisamente o poder ser creditada a experiência profissional e a formação pós-secundária a candidatos que não tenham tido um percurso escolar regular. Esta prática não é exclusiva de Portugal, existe não só nos países aderentes a Bolonha como creio em todo o mundo. O problema está, como é evidente, no modo como as instituições que apreciam os currículos dos candidatos definem os créditos a outorgar. Eu até posso pensar que um candidato possa ter um currículo tão relevante que demonstre que na área da licenciatura a que concorre adquiriu conhecimentos/competências que cubram uma grande parte das unidades curriculares do curso. Mas mais de 85% delas? Mesmo quem não se reclama de conhecimentos na área de Ciência Política e Relações Internacionais, e não teve acesso aos documentos que terão instruído o processo de Miguel Relvas, ao ver o elenco das unidades curriculares do curso e o relatório (parecer) divulgado pela imprensa. percebe que tudo não passou de um grosseiro embuste, grave para a instituição Universidade Lusófona. Portanto, não atribuam a Bolonha o que Bolonha não pretendeu.

Sem comentários: