2009/03/31

Jornalistas…


Recordo-me de ler jornais desde criança. Mal soube ler, tenho quase a certeza que não deixava de dar uma “vista de olhos” a O Século, que era o jornal que o meu Pai comprava diariamente. No Seixal, onde então morava, ele era levado a casa pelo “homem dos jornais”, como me lembro se dizia na altura. Depois de o meu Pai ler, antes de sair para o escritório, O Século era só para mim.

Ao longo da minha vida, ler o jornal, logo pela manhã se possível, era imperioso. Foi um pouco a oração matinal de que falou Hegel. Continuo a fazê-lo, hoje, mas mais diversificadamente: as primeiras notícias vêm pela Internet, só mais tarde tenho um jornal a sério, em papel, que vou comprar à tabacaria que fica, agora, a cem metros da casa onde moro.

Continuo a fazê-lo, mas com muita desilusão, que aliás desde há muito venho sentindo em relação não só aos jornais mas a toda a comunicação social. Por muito respeito que queira ter pela profissão de jornalista – e de alguns jornalistas o merecerem por inteiro – não consigo evitar um profundo desencanto com a maneira como se elaboram títulos e escrevem notícias, para além, claro, da própria notícia. Eu bem conheço a desculpa estafada do homem que morde no cão, mas penso que se ultrapassaram todos os limites no que toca à isenção e objectividade do que se escreve (ou diz, no caso da rádio, da televisão).

O que se escreve – nos jornais, claro, porque fora deles (por exemplo em blogs) o problema se põe de modo diferente – deve ter como objectivo esclarecer a opinião pública e não deformá-la. Por isso a objectividade é, para mim, a pedra de toque essencial em qualquer peça jornalística. E ela não passa por apenas se usarem alguns adjectivos “brancos” (como o “alegado” qualquer coisa). Eu sei que a objectividade pode ser considerada uma espécie de mito, porque no fundo todos nós vemos o mundo de acordo com a cor dos nossos óculos; mas os jornalistas devem tentar usar lentes limpas, translúcidas… e nestes tempos que correm, há muita sujidade nos óculos de muitos jornalistas!

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