Imprensa, rádio, televisão, blogs, têm nas últimas semanas acolhido um número invulgar de notícias e comentários sobre educação. Esta enxurrada de ideias pode vir a ter o mérito de, passadas as primeiras ondas de choque, provocar reflexões menos apaixonadas que sirvam para a elaboração de uma agenda que contribua para uma renovação do processo educativo em Portugal.
Neste momento, pode ser difícil aos professores serem serenos – mas nunca deveria ter sido ou ser ocasião para perderem a dignidade. Ainda há poucos anos recordo-me que num inquérito à escala nacional os professores apareciam muito bem cotados na opinião pública entre diferentes profissionais. Às referências infelizes da Ministra da Educação deveriam ter sabido responder com altivez e não com as armas do arsenal sindicalista e da má criação. Costuma dizer-se que quem não deve, não teme: pessoalmente, sempre me incomodei muito pouco com o que potencialmente pudesse ser argumentado contra mim, profissionalmente ou em qualquer outra área, se tivesse a minha consciência tranquila.
Mas regresso ao período inicial. Pode acontecer que todo este alarido venha a ter como feliz consequência que os reais problemas da educação possam vir a ser discutidos não na praça pública, como agora são, mas nos fóruns próprios – e onde, quer queiram os comentadores iluminados quer não queiram, têm de estar os que se têm dedicado às ciências da educação. Não para proclamarem as suas verdades como únicas, mas para fundamentarem o que sabem ser certo ou o que pensam dever ser melhor para a escola portuguesa. E, de algum modo também, para terem o direito de defesa!
Seria insensato dizer que tudo o que tem sido escrito, mesmo sob a influência de uma espécie de ódio incompreensível, é errado ou não merece consideração. Tão insensato como aceitar que esse tudo é integralmente correcto.
Deixemos pois assentar as águas. Esperemos que as decisões a ser tomadas pela Ministra acabem por ser aceites por quem tem de as executar – e para isso a própria Ministra não deve deixar de escutar razões e interrogar-se sobre elas.
Os próximos meses vão ser cruciais, mas as coisas hão-de melhorar. Preparemo-nos para, nessa altura, arrumar ideias e se possível a própria casa.
8 comentários:
A ministra, derivado do cargo que tem, devia ser a primeira a ter muito cuidado com aquilo que diz!
Leste a entrevista que deu à Visão?
No meio de algumas coisas acertadas, a maior parte são disparates e só mostra que não conhece as escolas do país onde vive e onde tem o cargo de ministra... O meu agrupamento tem 7 escolas do 1.º ciclo. Dessas 7 só UMA tem mais de 3 salas, uma tem 3 salas e as restantes CINCO têm apenas 2 salas. E estou a falar dos arredores da cidade de Aveiro, não de escolas isoladas nas serras. Saberá ela que A MAIORIA das escolas são assim pequenas? Que têm 2 professores a trabalhar o que não dá para fazer substituiçõe caso um falte (nem funcionária para tomar conta!!) e que não sei como nem com quem se farão os prolongamentos do próximo ano???
"Esperemos que as decisões a ser tomadas pela Ministra acabem por ser aceites por quem tem de as executar"
Caro Varela de Freitas, esta sua frase fi das que mais me custou a ouvir nos últimos tempos. Será que li bem?
Caro Henrique, leu bem, só que não deu relevo ao que vem a seguir: "e para isso a própria Ministra não deve deixar de escutar razões e interrogar-se sobre elas". Ou seja, é necessário diálogo. Acabado o diálogo, vamos ao trabalho!
Caro Varela de Freitas
o diálogo, e não só, antes das decisões é um bem inestimável. Eu tinha lido o que vinha depois da frase e, por não concordar...
POdemos ler em http://www.spzn.pt que o actual estatuto ´já não está em vigor no que concerne à equiparação a bolseiros. Será realmente esta a futura política governativa?
Afinal, nem a Formação é valorizada. ( E isto não é normal!)
Um abraço
Caro Varela de Freitas, quer dar ainda mais direito de defesa aos «que se têm dedicado às ciências da educação»? Mas se eles têm tido nos últimos 30 anos o monopólio dos espaços de discussão!
Quem finalmente está a conseguir irromper nos foruns somos nós outros, aqueles a quem o eduquês nunca convenceu - precisamente porque têm as ideias arrumadas o o eduquês não.
À escala mundial, as críticas às pedagogias centradas no aluno já vêm dos anos 60 do século passado. À escala portuguesa, essas críticas vêm do fim dos anos 70. Mas entre nós foi preciso esperar pelo panfleto «Os Filhos de Rousseau» de Maria Filomena Mónica para que as vozes críticas começassem a ser ouvidas no espaço público - e foi preciso esperar por «O Eduquês em Discurso Directo» de Nuno Crato para que o incómodo se começasse a sentir nos gabinetes.
E quer você pôr a pasta dos dentes outra vez dentro da bisnaga! Não vai conseguir. Houve tempo em que talvez esta discussão se pudesse ter feito discretamente, nos fóruns próprios, como você quer. Agora é tarde demais para sermos discretos. As coisas vão mesmo continuar a ser discutidas em público.
As decisões da senhora Ministra nunca vão ser aceites por quem «tem de as executar» porque quem tem de as executar já está farto há décadas de pôr sempre em prática os mesmos disparates.
E também por isto: porque, apesar das naturais divergências, há enormes zonas de consenso entre os pais, os professores, os alunos e a restante sociedade civil quanto ao que é e o que deve ser uma escola.Em relação a este consenso, só estão de fora o Estado e alguns (não todos) teóricos da educação. É mesmo duma vaga de fundo que se trata e não duma enxurrada passageira: tanto mais poderosa quanto mais longamente esteve reprimida.
Quiron
Apenas uma nota: eu não defendi fóruns de discussão "fechados". O que pretendo é que a discussão se faça a partir de factos e não de opiniões. (Publico hoje um post sobre isso).
Quiron
Apenas uma nota: eu não defendi fóruns de discussão "fechados". O que pretendo é que a discussão se faça a partir de factos e não de opiniões. (Publico hoje um post sobre isso).
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