2006/05/05

Uma reflexão sobre a memória dos outros


No dia seguinte ao da minha jubilação, um colega procura-me para me fazer um convite que sem me espantar me deixa curioso. Estava em Braga uma colega, professora na Universidade dos Açores, que viera fazer uma conferência e manifestara a esse meu colega o seu interesse em se encontrar comigo, porque fora minha aluna na Horta e gostaria de me rever. Eu estivera por duas vezes na Horta, em 1961 e 1968, e o nome da colega não me dizia nada (por respeito à privacidade, vou designá-la por R)… Claro que não tenho a pretensão de me recordar de todos os nomes dos meus ex-alunos, mas pensava que devia lembrar-me de alguém que se lembrava de mim...

Decidiu-se que jantaríamos nesse dia. Quando vi a R, senhora que fora menina há trinta anos, nada ma fez lembrar, e foi preciso algum tempo de conversa para eu reconstituir esse passado. Afinal, a R não estava no Liceu, mas sim na Escola do Magistério, que nesse tempo, funcionava no mesmo edifício, e eu fora seu professor de Psicologia Aplicada à Educação, conforme mandava a legislação. Ora essa turma, estive com ela muito menos vezes do que com as turmas do Liceu, e a R não era – ela o confessou – muito interveniente.

Mas o que me espantou foi a quantidade de memórias que conservou das minhas aulas (talvez, dizendo melhor, do que eu era), algumas verdadeiros pormenores sobre o método que eu utilizava e que ela muito apreciou. Independentemente do relativo prazer que tive por tal facto – afinal, sou humano e não deixo de ter a minha pequena dose de vaidade pessoal – regressei a casa pensando na responsabilidade que os professores têm em tudo o que fazem. Eu já o sabia, porque comigo se passa o mesmo em relação a muitos dos meus velhos professores: cada palavra nossa, cada acção, pode ter uma influência decisiva nos nossos alunos.

Apesar de não ter muitas recordações da R foi muito bom reencontrá-la: como lhe disse no fim do jantar, foi mais uma das coisas bonitas que me aconteceu na hora da despedida.

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