A primeira vez que estivera em Londres fora em 1973, quando a libra valia 60 escudos e havia pessoas que iam de propósito à capital do Reino Unido para fazer compras na época de saldos (não foi o meu caso, contudo…). Como turista, gostara da cidade. Agora, cinco anos depois, tinha pela frente, pelo menos, um ano para viver lá. A minha Mulher e a filha tinham ficado em Lisboa. Eu regressaria a Portugal nas férias do Natal, elas ir-me-iam visitar na Páscoa.
Resolvera a acomodação instalando-me no John Adams Hall, uma residência para alunos do Instituto de Educação, que ficava convenientemente localizada na Endsleigh Street, a três blocos do Instituto e da Russell Square (Praça e Metro) e ainda, embora sem grandes vantagens para mim, a dois passos da estação de comboios de Euston. O quarto era razoável para um estudante, com o senão, naquele tempo frequente (não sei se já alteraram os hábitos) de a casa de banho, que servia pelo menos quatro quartos não ter duche, o que obrigava ou a um banho de imersão numa banheira gigantesca ou a uma lavagem complicada que incluía uma espécie de exercícios de educação física, substituindo o chuveiro por uma série de copos de água depois do ensaboamento… Se o quarto era razoável, a comida (pequeno almoço à parte) era horrorosa.
Depois do Natal, cansado da residência, aproveitei o facto de ter vago um apartamento, igualmente gerido pelo Instituto, e desafiei o Lemos Pires, que partilhara a aventura londrina, para me acompanhar. Felizmente fomos os preferidos e mudámo-nos então para a Woburn Square, também ali na zona. Melhorei consideravelmente, porque para além de deixar de fazer ginástica no banho (havia duche!) passei a ser o responsável pela minha alimentação e embora não tenha grande aptidão para a cozinha consegui, mesmo assim, ter mais satisfação do que no Hall (aprimorei-me nas feijoadas…).
De qualquer modo, voltar a ser estudante e em condições que nunca tinham sido as minhas, porque estudara sempre ao pé de casa, com limitações financeiras porque, embora generosa, a bolsa do British Council tinha de ser gerida com tacto, não foi fácil. Confesso que na generalidade simpatizei pouco com os ingleses, embora tivesse excelentes relações com alguns e, em termos de resultados, tivesse aproveitado imenso da minha estadia. Foi um ano de trabalho intenso e proveitoso: passava os dias na Biblioteca do Instituto, que na altura não estava, como hoje, no edifício, mas a uns quinhentos metros, ocupando três andares. Só tinha aulas ao fim do dia, pelo que me sobrava tempo para estudar – e foi o que fiz. Só ao fim de semana, caso o tempo permitisse, fazia longos passeios.
Recordo-me que o Inverno foi rigoroso; nevou várias vezes. Foi igualmente um ano politicamente sensível – numerosas greves, entre elas uma da recolha de lixo que durou imenso tempo – o que teve como remate a mudança do governo trabalhista para o da Senhora Tatcher quando das eleições antecipadas (creio que em Maio de 1979).
Costumo dizer que me adapto bem e normalmente gosto de viver onde vivo. Não foi o caso de Londres: talvez tenha sofrido demasiadamente o facto de estar longe da família, e embora tivesse vários amigos nas mesmas condições, e com os quais tive um bom convívio, cheguei ao fim do ano sem grande vontade de continuar. O acaso proporcionou-me isso mesmo, e por isso, em vez de continuar, como era suporto que acontecesse, regressei a Portugal em Julho de 1979.
Voltei a Londres várias vezes, para curtas estadias, quase sempre com o objectivo de aproveitar a excelente organização do Instituto de Educação, e hoje a cidade parece-me menos hostil do que há trinta anos. Mas não seria o local onde gostaria de voltar a viver…
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