2006/05/22

Os lugares onde vivi (Faro – 1983-1993)


De regresso de Londres, fiquei em Lisboa até ao fim de Janeiro de 1983, tendo trabalhado no Instituto de Tecnologia Educativa, por algum tempo na Direcção-Geral do Ensino Secundário e, finalmente, ainda alguns meses na Secretaria de Estado da Administração Escolar, como assessor de João de Deus Pinheiro. Passo pois sobre esse viver em Lisboa, que tem sido sempre a minha base de residência.

Nos começos de 1983 fui convidado para ingressar na comissão instaladora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Faro, e sem muita hesitação aceitei.

Apesar de a minha Mãe ser algarvia (natural de Silves) só tarde fui, pela primeira vez, ao Algarve, numa excursão da minha turma do então 6ºano do Liceu D, João de Castro, realizada no final do 2º período de aulas, fins de Março (isto em 1953…). Passeio que recordo com nitidez, e por isso tenho bem na memória um Algarve que não tem nada a ver com o de hoje: um Algarve ainda longe do turismo como modo de vida.

Depois dessa primeira visita, regressei algumas vezes mas, dizendo a verdade, nunca me entusiasmei muito com o Algarve até ao ano em que decidimos passar uns dias das férias de verão em Pedras d’El-Rei. Descobri aí o Algarve dos dias longos, serenos, da luminosidade sem par, dos odores incríveis, como o das romãzeiras, da fruta maravilhosa. Entusiasmei-me com Tavira, e pensei que seria bom viver aí.

De Fevereiro de 1983 a Dezembro de 1988, praticamente seis anos, vivi pois no Algarve – não em Tavira mas em Faro. Durante cerca de um ano instalei-me, com outros colegas desses tempos pioneiros do Instituto Politécnico de Faro, num andar da zona da baixa da cidade, na Rua de Santo António; depois, passei a habitar num apartamento próprio, perto do Hospital, um 10º andar com vistas espectaculares para o mar e para a serra, avistando-se de Olhão até aos altos de S. Brás de Alportel.

Independentemente de esse período da minha vida ter sido excelente, tendo-me dedicado inteiramente a ajudar na construção da Escola Superior de Educação, gostei de viver na cidade. Embora o período de verão fosse um pouco mais complicado, nessa altura os turistas não paravam muito em Faro, e desde que se evitasse circular pela Estrada Nacional 125, o que com um bom conhecimento das estradas secundárias era possível, passavam-se bem os meses de calor e sempre se podia dizer que se tinham passado as férias no Algarve…

Contrariamente ao que se ouvia dizer, achei os algarvios acolhedores mesmo para quem não era turista, interessados no desenvolvimento daquela que é, na verdade, uma região natural de Portugal. Conheci relativamente bem todo o Algarve, o da Serra, do barrocal, do litoral. Apreciei a culinária algarvia muitas vezes desconhecida do grande público. Contemplei paisagens excepcionais.

Como disse, profissionalmente, tive enorme satisfação com o que fiz. Quando cheguei a Faro, mostraram-me uma quinta na qual se estavam a cavar alicerces; quando de lá saí, deixei uma escola a funcionar num campus bem agradável.

Em fins de 1988, contudo, começava a ficar cansado – foram cinco anos de grande esforço, com muitas viagens, muitas reuniões, muitas emergências para resolver. E por isso aproveitei uma oportunidade para fazer uma pausa e parar para estudar e fazer o doutoramento adiado. No dia 1 de Janeiro de 1989 parti para os Estados Unidos da América, onde iria ficar três anos e meio. Quando regressei, ainda fiquei mais um ano em Faro, que abandonei definitivamente em Julho de 1993.

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