2005/12/06

Estados de espírito


Ontem estive numa sessão de apresentação de dois livros de colegas da Universidade, para a qual fui convidado para falar sobre o estado actual da reorganização curricular do ensino básico. Também esteve, na mesma situação, a Professora Carlinda Leite, da Universidade do Porto.
Para uma plateia de pouco mais de 50 professores, expus os meus pontos de vista e não deixei de referir o momento actual, que reconheço ser de crispação por parte dos professores. Analisando o que se tem passado, fiz uma afirmação que resume a conclusão a que cheguei: a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues tem seguido uma política corajosa através de uma política pouco inteligente. Corajosa porque muitas das medidas que têm sido tomadas eram (são) necessárias. Pouco inteligente (e atenção, apenas me refiro à política!) porque se sabe que em educação, porventura mais do que em qualquer outros sector de actividade, nada se pode fazer sem ganhar a adesão dos professores. Penso que teria sido possível, mesmo implementando as medidas, não ter causado nos professores o ressentimento que existe. Uma colega perguntava, no final, o que eu achava que se poderia fazer para sanar esta situação. Fui sincero: penso que infelizmente muito pouco no curto prazo. Nem a Ministra pode recuar, porque isso seria ainda menos politicamente inteligente, nem a posição de uma maioria dos professores permite acalentar a esperança de uma atitude de desculpa. Será possível, porém, no médio prazo, algumas inflexões na concretização das medidas tomadas (ao fim de alguns meses pode fazer-se a avaliação e, a coberto dos seus resultados, explicar pedagogicamente a necessidade de pequenas alterações).

Esta reunião serviu para “ao vivo” ter uma ideia mais clara acerca do estado de espírito dos professores. E para consolidar uma ideia que tenho vindo a formar: que mais do que o teor das medidas contestadas, o que está em causa é a maneira como elas têm sido postas em prática nas escolas. E sem querer comprometer uma opinião num domínio que neste momento desconheço, pergunto-me se não seria possível, sem deixar de cumprir as orientações dadas, encontrar meios menos gravosos da sua execução para os professores.

4 comentários:

saltapocinhas disse...

Mais uma vez estás cobertos de razão... a minha mãe costuma dizer que "todos os burros comem palha, mas há que saber como lha dar". Esta ministra não sabe(salvo seja!), e não tem a minima sensibilidade para com a tarefa dos professores.
E parabéns pelo dia 2!

Fernando Reis disse...

Os meus parabéns pelo dia 2. E as maiores felicidades para o futuro.
Quanto ao estado de espírito dos professores, penso que o seu comentário acerta na mouche.
O que acontece na prática é que o ME toma medidas cegas, e os cegos dos Conselhos Executivos executam-nas cegamente.
No final quem tem o seu dia a dia totalmente virado no avesso são os professores que querem preparar as aulas e não têm tempo para isso.
Isto tudo foi mal feito. As intenções poderão ser boas, mas boas intenções com más práticas, o que é que dá?

Miguel Pinto disse...

Parabéns caro VFreitas.
É verdade. Há um grande problema que o ME tardará em resolver. É que os professores têm memória...

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Agradeço a todos.
O meu comentário foi muito pensado, e procurou situar muitas das minhas anteriores intervenções num quadro de que me apercebi mais tarde. Não gosto de aparecer como inflexível quando vejo razões para mudar. Hoje, penso que na verdade a Ministra tem sido inábil embora o que pensa para a educação faça sentido; penso que os professores têm razões de se sentirem feridos por causa dessa inabilidade.