2005/07/15

As Crónicas na RUM (16)


Quando há oito dias ia para o ar a minha crónica semanal, Londres começou a viver o seu inferno – como New York e Madrid tinham vivido. Não se pode deixar passar em claro a persistência do terrorismo nesta sua forma mais indiscriminada, que se torna repulsiva.

Sempre condenável, é contudo diferente fazer explodir um edifício mas avisar primeiro, ou ter como alvo uma pessoa que se tem como responsável. Provocar uma chacina de pessoas inocentes, como aconteceu nestes três casos, é intolerável.

Ainda que não pense que não valha a pena identificar erros passados que possam estar neste recrudescimento de actos terroristas, é neste momento irrelevante discuti-los, porque já ocorreram. O que interessa agora é procurar uma solução – se ela existir. Parece muito claro que a luta directa não dá resultados, porque é desigual. Os terroristas autores destes atentados conseguem ter armas mais eficientes porque começam por desprezar a sua própria vida.

Há quatro anos, ao comentar a estes microfones o 11 de Setembro, disse que partilhava, com muitos outros, da ideia de que ia ser muito difícil empreender a luta contra o terrorismo e vencê-lo; mas não deixei de dizer que para além de acções directas seria importante que todas as nações, unidas pelo objectivo de vencer o terror, pensassem também em encontrar meios para que existisse no mundo mais justiça e fosse possível uma maior partilha de recursos que garantisse um bem-estar generalizado.

A evolução dos acontecimentos, porém, obriga-me a ter mais cautelas no discurso. Não me parece que estes actos tenham a ver com a revolta pelas condições de miséria ou de opressão de muitos povos; eles revelam apenas o ódio que grupos islâmicos têm pelo Ocidente, e que têm sido exacerbados por atitudes que os têm ferido.

O mais grave é que a luta é necessária mas começa a assemelhar-se à de D. Quixote – contra moinhos de vento. Sabe-se que há um mentor, mas há quatro anos que o procuram sem o encontrar. As forças de segurança estão super vigilantes, mas (independentemente de se dizer que várias tentativas têm sido desmontadas a tempo) de vez em vez tal segurança é traída e há New York, Madrid e Londres, para não falar de Bali.

Oiço muitas vezes dizer que não se deve dialogar com terroristas, mas não sei se, havendo condições, não seria oportuno não pôr de parte essa via, quanto mais não fosse para tentar perceber até onde querem chegar os promotores desta instabilidade.

Bem nos bastam as calamidades naturais – cheias, terramotos, maremotos – para que nos conformemos perante calamidades fabricadas por humanos. É certo que infelizmente o Ocidente tem dado muitos maus exemplos, mas merece a pena parar e reflectir. Se for possível.

Até para a semana.

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