2009/02/27

A memória reencontrada?

Na mesa de operações as enfermeiras cumprem a sua tarefa de me preparar para a intervenção. Estou lúcido e calmo. Atrás de mim, alguém (pensei que era o cirurgião) pergunta-me: "Então, deixou de tomar o Cartia há quanto tempo? Uma semana?". Repondo que sim. E depois, mais nada.
Acordo lentamente com um leve abanar da cama onde já me encontro. Abro os olhos e de imediato recordo-me de tudo: estou vivo. Uma médica, pressentindo o meu acordar, ajudou-me balançando ao de leve a cama. Mas volto a fechar os olhos. Nada me dói, sinto-me confortável. Já ao pé da minha cabeceira, a médica diz-me: "Correu tudo muito bem. Agora vai ser levado para o quarto, faça por dormir" (virei a saber que eram dez da noite; entrara no bloco operatório às 18 e 30, mais ou menos).
No percurso para o quarto penso em mil coisas - e entre elas, que é bom lembrar-me de tudo o que sucedeu antes, de ter pontes para o passado, mesmo que esse passado não tenha muito de agradável para lembrar. E, curiosamente, penso n' A Memória Flutuante - não terei sido um pouco cobarde (talvez cobarde seja demais) ao deixar de reflectir nesse espaço para o qual, apesar de tudo, tinha leitores? E no torvelinho de pensamentos, deixei a porta aberta para o reencontrar da Memória.
Hoje, quinze dias depois da operação, regresso.

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