2008/01/15

A delapidação da memória


Nos fins de Novembro do ano passado deixei de residir em Braga e regressei (pode dizer-se que regressei…) a Lisboa, embora desde 1983 o meu domicílio real nunca tenha sido na capital. Foi uma decisão que amadureceu ao longo dos últimos meses, fruto do termo das minhas funções na Universidade do Minho e também das da minha Mulher, que se aposentou igualmente. A não ser a Universidade pouco nos ligava a Braga, mau grado as boas amizades que deixamos – mas amizades que permanecem sem ser necessária convivência frequente – e o ambiente global da cidade, que é agradável.

Devo dizer que se fosse para trabalhar poria sérias reticências em regressar a Lisboa – nessas condições viver na capital é um inferno, com as horas de ponta… Mas para quem não tem horários, Lisboa é muito atraente e estou a gostar: quando não chove o céu de Lisboa é uma maravilha (só no Algarve é mais bonito).

A mudança é que foi um quebra-cabeças. O que se acumula ao longo dos anos! Tinha caixas que já tinham vindo de Faro e nunca tinham sido abertas. Tive verdadeiros momentos de angústia quando me apercebi que não podia pura e simplesmente trazer tudo: não sendo mais pequeno, o apartamento em Lisboa tinha menos hipóteses de arrumações e por isso tive de decidir sobre o que tinha de “deitar fora”, como se diz no quotidiano.

Procurei conservar o máximo, sobretudo o que me trazia “memórias”, mas mesmo assim reduzi substancialmente o acervo que fui acumulando. Nos últimos tempos a minha grande tarefa tem sido arrumar – livros e papeis, sobretudo – de modo a ter um passado organizado. Ainda me falta muito tempo, claro, mas tempo é coisa que não falta a um aposentado, ainda que me queira convencer do contrário…

Tudo somado, delapidei um bom pedaço do suporte físico da minha memória. O que talvez a torne ainda mais flutuante…

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