O meu telefone fixo já toca pouco… Os telemóveis alteraram profundamente os padrões de comunicação que eram normais e a verdade é que se contam pelos dedos as chamadas que tenho de atender pela via tradicional. Mais: agora, quando o telefone toca, tenho praticamente a certeza que se trata de uma chamada indesejável, como são todas as que procuram vender qualquer coisa, oferecer o impossível ou, simplesmente, inquirir numa sondagem (porventura, a menos má de todas elas…).
Ao princípio, era paciente, ainda ouvia os primeiros minutos, mas percebi que quanto mais ouvisse mais difícil se tornava acabar a conversa a bem; assim, mal percebo que quem está do outro lado foi apenas à lista telefónica caçar o meu nome e número, arrumo a questão com um “Desculpe, mas não estou interessado” e normalmente isso chega. Se a interlocutora (normalmente é uma senhora) tenta contradizer, digo-lhe que compreendo que ela está a ganhar a sua vida e que por isso anote que fez a chamada e que o potencial cliente declarou o seu não interesse, mas não mace mais. E isso põe ponto final.
Outro dia, porém, a senhora que fazia a chamada nem assim parou, e como estava a propor a compra de uns livros de história de arte, achou por bem perguntar: “Mas o senhor C. não gosta de história de arte?” Aí o verniz estalou um pouco – mas não terei resvalado para a má educação. Apenas lhe fiz ver que a insistência não seria a melhor estratégia para certos “clientes”, desejei boas tardes e desliguei.
E fiquei a pensar no tempo em que não havia telemóveis e o telefone tocava mais vezes – mas nos maçava muito menos!