Ao terminar a primeira fase da minha intervenção no dossier (de facto, não me habituo à grafia dossié!) Bolonha da minha Universidade, no qual, por dever de ofício, me passaram pelas mãos mais de três dezenas de propostas de “adequação” de cursos existentes ao formato Bolonha, enquanto relaxo um pouco aguardando uma reunião magna onde essas propostas serão apreciadas – isto será a 1 de Março – pergunto-me se, como optimista que sou, tenho razões para estar satisfeito ou não.
Há um ponto positivo: houve empenhamento quase total da comunidade académica para concretizar um processo que estava em banho-maria desde há alguns meses, e em certos casos há uns anos. A tardia publicitação do anteprojecto de um Decreto-lei que nunca teve projecto “obrigou” a encurtar os prazos e por isso houve necessidade de horas extra para os cumprir, com reuniões “non-stop” por parte de algumas escolas…
Contudo, esta necessidade de uma resposta rápida não é boa conselheira para decisões reflectidas e, a não ser em casos onde o amadurecimento já estava no ponto, receio bem que os resultados fiquem aquém do que era esperado.
Bolonha, e não faço senão repetir o que tem sido dito por quem tem estudado o processo, é, mais do que um simples reajustamento de cursos, uma oportunidade de mudança. E mudar, todos sabemos, não é fácil. Por isso mudanças mais ou menos forçadas conduzem muitas vezes a um disfarce: a mudança é apenas um fingimento…
E sinceramente, apesar do meu optimismo, pergunto-me se, numa maioria de casos, não é esse disfarce que vai prevalecer. Nas entrelinhas do discurso e na objectividade das grelhas das normas técnicas, onde se faz a leitura das horas de trabalho do estudante – cerne da mudança – na maior parte das vezes descobre-se o mesmo número de horas teóricas da disciplina que cedeu o nome à unidade curricular, e os resultados de aprendizagem são tão vagos que cabe lá tudo…
Vai ser necessário um grande acompanhamento do progresso da experiência, porque de uma experiência se trata; e vai ser preciso que desde o início os alunos percebam e adiram ao processo, arrastando para ele os professores.
Espero não estar a ser injusto (e para o não ser tenho de afirmar que há propostas que me parecem excelentemente pensadas para uma renovação de metodologias). E por aqui me fico, por hoje...
3 comentários:
Quando há uma revolução muitos aproveitam para abrir uma oportunidade para si próprios.
Saí hoje duma reunião precisamente sobre Bolonha na escola (de engenharia) onde lecciono. Fiquei estarrecida! Um grupo de docentes apresentou uma proposta dum curso de "engenharia de software" onde a matemática fica reduzida à expressão mais simples. Eu sei que quem se vai dedicar apenas a algoritmos e programação, não precisará muito de integrais triplos, mas há um mínimo! Sucessõs, séries, equações diferenciais, funções de mais de uma variável... são assuntos totalmente ignorados nos programas apresentados. Só uma cadeira de Análise Matemática, semestral!!! Eu não sou da área de engenharia informática, sou de matemática, por isso faltam-me argumentos. Como é na Universidade do Minho? Será possível saber qual é a proposta da Universidade do Minho para um Curso de Engenharia Informática, vocacionado para o software?
“e vai ser preciso que desde o início os alunos percebam e adiram ao processo, arrastando para ele os professores.”
A ideia que me ocorre é saber se esta afirmação configura um atestado de incompetência aos professores do ensino superior ou se é um atestado de confiança aos ex-alunos do ensino secundário. Se beber do seu optimismo, professor Varela, posso dizer que nada do que disse configura um atestado…
Miguel, vou fazer um post sobe este ponto.
Homoclínica - A UM não tem um 1º ciclo em "Engenharia de Software". Os cursos de informática existentes são "Engenharia Informática", "Tecnologias e Sistemas de Informação" e "Engenharia Electrónica Industrial e Computadores". Tanto quanto posso avaliar - não é o meu ramo - existem várias unidades curriculares de matemática. Ah! Temos ainda um outro curso na Escola de Ciências, "Ciências da Computação". Na versão antiga creio que os planos curriculares dos cursos estão no nosso site, www.uminho.pt.
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