2005/08/10

Posso também entrar na discussão?


Eu não sou economista, nem empresário, nem capitalista; não caio na tolice de dizer que não sou político porque todos nós somos políticos. Sou um cidadão de um país que hoje é livre e está a aprender a ser democrático e que amo, sou um professor que se orgulha de ter uma carreira diversa mas sempre linear em favor da educação (a qualquer nível), com uma formação humanista acentuada sem desprezar a tecnologia.

Penso que tudo se pode discutir, e por isso compreendo que hoje a grande discussão seja o novo aeroporto para Lisboa e o TGV. Como não posso competir nessa discussão com os argumentos dos economistas (que parece têm ideias diferentes, o que é normal), dos empresários e dos capitalistas (provavelmente com ideias diferentes, também), resta-me avançar como cidadão (que não pode dizer que é apolítico mas luta por ser lúcido).

Vivi anos e ainda hoje periodicamente vivo num 7º andar de um prédio em Lisboa que fica praticamente no corredor de aproximação mais comum do aeroporto da Portela. Aprendi ao longo dos anos a remeter para o subconsciente os ruídos por vezes desmesurados das aeronaves que demandam a pista. Raramente isso sucedia a meio da noite, dadas as condicionantes do tráfego no período nocturno, mas casos houve em que acordei sobressaltado. E quantas vezes não me passou pela cabeça: “E se acontecer uma tragédia?”

Nunca aconteceu, felizmente, e espero que nunca suceda.

Fora esta preocupação (egoísta?) a Portela é de uma comodidade espantosa. Ter um aeroporto dentro da cidade é uma maravilha. Nas muitas vezes que o tenho usado, sobretudo nas viagens “domésticas”, de Faro ou do Porto e vice-versa, não deixo de pensar a diferença que existe entre aterrar na Portela e estar, quinze minutos depois, no centro da cidade, ou aterrar no Charles De Gaule ou em Heathrow e ter pela frente o percurso longo até chegar ao centro de Paris ou Londres.

Contudo, sempre pensei que o aeroporto da Portela estaria condenado a um dia ser substituído. Por mais cómodo que fosse para utentes como eu. Continuo a pensar assim, e creio que quanto mais se adiar uma decisão, mais difícil se tornará o futuro.

No final do governo do Estado Novo já se falava na necessidade de construir um novo aeroporto para Lisboa, em Rio Frio, na margem sul do Tejo (chegou a estar previsto no 4º Plano de Fomento – 1974-1979). Até constou que teriam existido negociatas de terrenos a preludiar a escolha favorecendo figuras gradas do regime… Mais tarde surgiu a hipótese Ota. Tenho a ideia de terem existido estudos de impacte ambiental, de ter havido discussão, de terem surgido grupos de pressão.

Eu preferiria o novo aeroporto em Rio Frio. Porque ficava mais perto de Lisboa, sem dúvida. Não estou a ver muito bem um cidadão ir do Porto a Lisboa partindo do Aeroporto Sá Carneiro para aterrar na Ota e ter depois de gastar pelo menos três quartos de hora para chegar onde queria. Com as demoras no check-in e na espera da bagagem gasta mais ou menos o mesmo tempo que indo de comboio… mesmo nos Alfas! Porque talvez o TGV só fosse necessário para ligar Portugal à Europa, via Madrid, e no nosso rectângulo apenas fosse de melhorar as condições das grandes linhas.

Mas o que me importa, neste momento, como cidadão, é que seja claramente informado sobre os porquês da decisão que vai ser (ou já foi) tomada. Que os responsáveis expliquem claramente se de facto estamos a hipotecar o futuro ou pelo contrário, estamos a antecipar-nos porque o futuro assim o exige.

O que eu gostaria é que em todo este processo houvesse mais seriedade por parte de todos e que assunto de tanta importância não fosse mais objecto de politiquices.

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