2005/06/06

Tempos difíceis


Não sei o que é mais preocupante: se contabilizar as medidas que são tomadas pelo Governo para tentar regularizar as finanças do país e que a todos vão penalizar, se perceber algumas reacções que são testemunhadas por quem está atento à comunicação social. Compreendo que existam pessoas irritadas – mas como posso compreender um compatriota que declara, calmamente, num jornal, que a partir de agora vai comprar por atacado todos os produtos que vão ser taxados com o IVA a 21% a Espanha? Detesto ter de pensar assim, mas quase concordo com Vasco Pulido Valente quando ele diz que devíamos substituir estes portugueses que temos por outros melhores… E pergunto: independentemente do não cumprimento da promessa de não aumentar impostos, que poderia esperar o eleitor em 20 de Fevereiro passado quando deu a maioria absoluta ao Partido Socialista? Nestes tempos difíceis penso que o mais importante é não agravar as condições de quem vive no limiar da pobreza ou para lá caminha, não é proteger os interesses de quem pode meter-se no automóvel e ir de mês a mês a Espanha para não pagar impostos em Portugal.

5 comentários:

Acilina disse...

A crise pode ser grande, mas se há culpa,acho que não é dos funcionários públicos, que estão a ser os mais atacados por estas medidas. Apesar da crise continuam a fazer-se gastos superfluos nas altas esferas do aparelho de estado. Desde carros que são substituídos por outros de gama mais alta. a frota inteira (Tribunal Constitucional) a milhares de pensões e subvenções vitalícias a todo e qualquer que passou uns tempinhos num cargo político, passando por dúzias de motoristas para um único ministro (Paulo Portas). Depois não digam que são as pensões ou os vencimentos dos pobres funcionários públicos que não têm outras fontes de rendimento, que têm que pagar a crise.

«« disse...

a questão que coloco (mais do que me mandar aos arames com o que me vai custar a crise) é para onde é que vãos dinheiros que entram nos cofres do estado?...são aos milhares de milhões. Entendo e adorava ter o sentido patriótico, mas começo a não ter nem força, nem vontade para aguentar estes políticos (e já agora também há muito que deixei de ligar a Vasco Pulido Valente).
PS: (salve seja) desculpe o mau azeite neste meu desabafo num espaço que respeito e estimo muito.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Confesso que hesitei antes de escrever o que escrevi porque sei que é um tema sensível. PJ recorda os tempos em que os funcionários públicos só receberam metade de um subsídio (férias ou Natal, não me recordo bem), substituído por certificados de aforro que mais tarde até fizeram jeito... Eu sei que se tem gasto mal muito dinheiro e provavelmente muitos têm culpa (até já se acusa o Prof. Cavaco!). Mas o que penso é que se chegou a um limite. Parecido com o dos anos 80 - sem FMI... E se não ajudarmos todos não sei como se pode sair deste buraco. Sejam quais forem as nossas convicções, o que não podemos é não querer ver. Quer gostemos ou não as condições mudaram: vivemos a globalização, temos de aceitar os chineses, temos de pagar alguma coisa por termos o Euro, que é uma moeda apesar de tudo forte e estou certo que continuará forte. Por isso eu dizia que o essencial é preservar quem tem pouco pouco ou nada - o Estado tem de continuar a ser social; agora deliberadamente fugir a uma responsabilidade, não. Quanto ao Vasco Pulido Valente, Miguel, também não o aturo muito bem, e por isso dizia que detesto ter de lhe dar razão...

saltapocinhas disse...

Eu concordo que se peçam sacrifícios, eles têm de ser feitos e é precisa coragem para os exigir...Mas começam a perder a razão se não começarem pelos que ganham mais e pagam menos...

«« disse...

Caro Professor, tenho perfeita consciência da gravidade do momento e acredito que não temos outra solução do que passarmos, mais uma vez, por mais privações. O que já me custa engolir é que sobre esse pretexto estejam a subverter todo o quadro de valores que devia orientar o trabalho, senão vejamos: Não acha que é correctíssimo que os trabalhadores privados possam ter direito a 100% do seu ordenado quando estão doentes ( e têm porque o diferencial entre a baixa e o ordenado é suportado ou pelo a entidade patronal ou pela caixa). Quando se equipara o publico ao privado estamos a inverter a ordem do valor que é o direito à doença. Este foi só um exemplo muitos podia deixar aqui. Mas fique com a ideia Caro Professor que eu também acho que agora não temos outro remédio senão, permita-me a ironia, pagar a descentralização iniciada pelo Dr. Santana Lopes.