2005/04/11

Aquisição de competências no ensino básico


Este post está prometido há dias.

Estruturar o processo de ensino-aprendizagem com base na apropriação de competências pelos alunos é actualmente um objectivo na maior parte dos sistemas de ensino. Para quem pensa que existem “modas” na educação, diria que as competências são uma moda… Não é, claro, a minha visão: foi a investigação e sobretudo os bons resultados obtidos em meio profissional, no qual a formação assenta essencialmente na apropriação de competências, que determinaram esta convergência de orientações. Não defendo propriamente uma educação baseada nos critérios da “racionalidade técnica”, mas esta aproximação não significa o abandono puro e simples de uma atitude humanista e/ou personalista.

Correndo o risco de simplificar em extremo, eu diria que na fase de iniciação escolar as mais importantes competências a desenvolver pelo aluno são as competências do aprender a aprender.

Um dos mais consistentes resultados que têm sido obtidos pela investigação em educação é que todas as aprendizagens são construídas pelo aluno (o que não exclui, como é evidente, que exista um ensino; somente esse ensino deve estimular a construção do conhecimento e o desenvolvimento das competências).

Ora não aprendemos todos da mesma maneira. Como hoje se diz, muito por influência da informática, o processamento da informação por cada um de nós é feito de maneira diferente. Uns aprendem bem ouvindo, outros lendo, outros fazendo (alguns autores referem estilos de aprendizagem auditiva, visual e táctil). Os primeiros tempos na escola devem ser de orientação – e o conjunto de tarefas que a orientação implica parece que pode ser cumprido com mais eficiência pelo tal professor generalista, eventualmente com uma ajuda eficaz por parte de um psicólogo. E digo isto porque a principal tarefa do professor é conhecer bem todos os seus alunos; ele deve procurar entender qual o estilo de aprendizagem de cada um e proporcionar-lhe os meios mais adequados para dele tirar partido.

Aprende-se a aprender ao longo da vida, mas desde o início a criança deve aperceber-se das suas próprias características de aprendiz (embora já haja quem use “aprendente” ainda não aderi à palavra).

Um professor do 1º ciclo deve ter aprendido e treinado, na sua escola de formação, os procedimentos didácticos correctos para as aprendizagens básicas: leitura, escrita, aritmética. Confesso que compreendo mal que se advogue, para uma criança de 6, 7 anos, que existam professores especializados para cada uma dessas áreas. A não ser em casos extremos, que configuram condições especiais, por certo um professor único desempenhará bem o seu papel.
É evidente que o simples enunciado de uma competência esconde uma estratégia e tem de ser complementado por outros enunciados – e os mais importantes são os resultados esperados pela aprendizagem, depois traduzidos em competências (que genericamente podem ser entendidas como a capacidade de concretizar, em acções e por atitudes, os diversos saberes que devem ser aplicados nessa emergência). Por isso a avaliação dos resultados escolares quando se usa uma pedagogia de competências reveste dificuldades, porque não está em causa a reprodução de um conhecimento mas a sua aplicação numa situação concreta.

Uma nota final: estamos no começo, e não só em Portugal, nesta abordagem a um ensino-aprendizagem por competências. O que implica formação e cautela no desenvolvimento do processo.

2 comentários:

saltapocinhas disse...

Só hoje li este excelente artigo (li, imprimi e guardei).
Nunca tinha visto uma tão correcta e ao mesmo tempo simples definição de "competências", que é um palavrão que nos apareceu há pouc tempo mas que poucos entendem. E tal como dizes, o mais difícil é avaliar alunos nesse contexto.
Quanto à monodocência, mais uma vez estou completamente de acordo. Só quem não conhece o 1.º ciclo e a relação profesor/aluno que existe nesta fase da vida das crianças é que pode ser contra... Já li algures que se as crianças do 1.º ciclo correm um grande risco ao ter só um professor, que pode ser uam peste e marcá-los negativamente para o resto da vida. Se fossem mais do que um o risco seria menor...Pode ser, isso infelizmente até é capaz de acontecer.Mas, é só por 4 anos, às vezes nem isso e apenas uma parte do dia. Eu estou muito mais preocupada com aquelas crianças a quem calhou na rifa uma peste... de pais! E esses infelizmente são para todas as horas de toda a vida!

Anónimo disse...

gostei...tou a estudar as competencias e fiquei na duvida sobre o que será melhor...no entanto, penso que a aprendizagem por competencias permite ir mais alem