2005/01/24

Eduardo Marçal Grilo



Conheci Marçal Grilo depois da Revolução de Abril, antes mesmo de ser Director-geral do Ensino Superior, em 1976, quando uma reunião de cariz político nos reuniu. Bons tempos, em que ainda éramos ingénuos em relação à participação cívica em partidos políticos e queríamos sobretudo que Portugal desse a volta. Penso que hoje, sem termos perdido os ideais, deixámos de ser ingénuos… ou pelo menos pensamo-lo. Depois disso, sem nunca termos tido relações de grande proximidade, contactámos por diversas vezes, e fui construindo dele uma imagem de alguém com grande mérito neste país. Foi um bom ministro da Educação – ainda que tenha algum ressentimento por ter sido ele um dos proponentes do famoso falar “eduquês”, que tomei como gracejo mas não desejaria ter ouvido de quem até tem, da educação, ideias claras e correctas. Afinal, se nós, os das ciências da educação, falamos “eduquês”, será que os médicos falam “mediquês” ou os engenheiros “engenheirês”? Bom, nunca tive oportunidade de lhe dizer este meu mal-estar a propósito do gracejo, mas isso não afectou a estima intelectual que por ele tenho. Por que trouxe hoje Marçal Grilo a esse blog? Ontem ele foi entrevistado naquele programa que se intitula, com pompa, “Diga lá, excelência”. “Apanhei” apenas o final, mas hoje li no Público, o que julgo serem excertos largos dessa entrevista. Merece a pena lê-la. Traça um quadro rigoroso do estado da política em Portugal, reflecte com seriedade sobre aspectos decisivos da educação – a fuga à escola, o gigantismo do Ministério da Educação, o papel dos Sindicatos dos Professores em relação aos concursos. E a terminar volta a um dos seus pontos de vista recorrentes – a gestão das Universidades. Compreendo-o perfeitamente: com a minha vivência na Inglaterra e nos Estados Unidos “afinei” a minha sensibilidade para aceitar paradigmas que estão nos antípodas dos que regem a nossa vida universitária. Na verdade, o que é difícil encontrar, nos EUA, é um professor que tenha feito toda a sua vida na mesma Universidade; a regra é a mudança. Os Presidentes das Universidades são recrutados por concurso e os candidatos são seleccionados mediante verdadeiras provas – e vêm, normalmente, de outras instituições. Anulam-se assim aspectos negativos que a escolha democrática pode por vezes não evitar (e apresso-me a dizer que não estou contra eleições, mas reconheço que muitas vezes elas têm efeitos perversos, sobretudo quando a população é pequena). Será possível pensar em coisa semelhante entre nós? Duvido que em tempos próximos seja possível, mas seria interessante que houvesse uma experiência-piloto numa das Universidades do país.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma pergunta-sugestão: conhece o 'blog' Professorices? Sou, apenas, visitante, pois nada me liga à Educação a não ser a minha condição de educanda permanente, mas creio que aquele 'blog' lhe interessará, como visitante e possível participante-comentador.
Aqui vai o endereço, para o caso de não o conhecer: http://professorices.blogspot.com/

Bom resto de dia,
DespenteadaMental http://ideiasemdesalinho.blogs.sapo.pt/)

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Agradeço a informação e naturalmente a "descoberta" do blog que iniciei há pouco tempo. Embora tenha pouco tempo de "blogueiro" (a palavra não existe mas percebe-se o sentido...) já consegui identificar uma série de blogs cuja visita me interessa, e o "Professorices" é um deles. Aliás, já comentei uma ou duas vezes. É um excelente blog. Até sempre!