2006/06/08

Tanta confusão!


Tenho ouvido mais rádio e visto mais televisão a horas em que o não fazia – e por isso tenho apanhado os célebres “fóruns” da TSF de manhã e as emissões interactivas da SIC-Notícias e da RTP-N da tarde. É excelente que toda a gente se possa pronunciar – mas é confrangedor por vezes ouvir o que se ouve. Levo em consideração o perfil de quem depõe, e benevolentemente aceito em nome da liberdade de expressão as tolices que se dizem.

É mais complicado aceitar que pessoas com responsabilidades imitem os que as não têm e digam o que, por vezes, dizem. A propósito das medidas sobre as actividades de enriquecimento curricular anunciadas ontem pelo Ministério, tenho ouvido (e lido) afirmações que só podem ser proferidas por haver muita confusão acerca do que está em causa. Vejam só esta pérola da Fenfrop, divulgada hoje pelo Público. Transcrevo, por não estar online: “As expressões artísticas e físico-motoras e o estudo acompanhado têm feito parte das 25 horas curriculares semanais do 1º ciclo, a par de disciplinas como a Matemática. No próximo ano passam a ser extracurriculares (texto da jornalista) … o que representa (segundo a Fenfrop) «uma concepção conservadora do currículo muito próxima da que foi desenvolvida pelo salazarismo»”. Eu pensava que dirigentes sindicais tivessem um mínimo de compreensão sobre currículo: mas não têm. As actividades de enriquecimento curricular, previstas no Decreto-lei 6/2001, são actividades curriculares, planeadas pela Escola e desenvolvidas para criar oportunidades de aprendizagem, em meu entender permitindo ter em conta uma saudável individualização. Por outro lado, como o Decreto-lei não foi revogado, não se percebe que se diga que as expressões e o estudo acompanhado “saiam do currículo”… Com certeza permanecem. Logicamente.

Podem existir constrangimentos vários que sejam obstáculos a um bom desenvolvimento deste plano – o que não se pode dizer é que ele seja um retrocesso para uma concepção conservadora de currículo.

Anote-se que neste caso a própria jornalista errou, não foi apenas a fonte sindical.

7 comentários:

henrique santos disse...

Caro Cândido Freitas
para mim é preocupante que áreas da expressão artística e físico-motora, que constam dos programas do primeiro ciclo sejam atiradas para fora das 25 horas e remetê-las para actividades de enriquecimento curricular. É desvalorizar e secundarizar essas áreas de aprendizagem e não vai, na minha opinião, melhorar as aprendizagens básicas do ler, escrever e calcular. Por isso também considero um passo atrás essas medidas.

Miguel Pinto disse...

Actividades de enriquecimento curricular são isso mesmo: actividades que burilam, melhoram, aperfeiçoam o currículo. Logo, são actividades não essenciais. Percebo e concordo com o ponto de vista do Henrique.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Esclareço o que penso.
Um despacho ministerial não pode revogar um decreto-lei, pelo que o D-L 6/2001, de 18 de Janeiro, se mantém em vigor. Assim, a organização curricular prevista para o 1º ciclo, que inclui, como se sabe, a área de expressões, permanece. As actividades agora oferecidas são de "enriquecimento", oportunidades para aquelas crianças que tenham gosto em desenvolver as suas capacidades. Como de há muito defendo que tudo o que a escola promove é currículo, é-me indiferente se a acção deve ser desenvolvida das 10 às 11 ou das 16 às 17. Não vejo, pois, qualquer desvalorização das actividades que a escola entender propor.

AntonioPacheco disse...

São actividades de «enriquecimento» e de que maneira... vejamos: as actividades curriculares na área das expressões no 1ºciclo nunca foram desenvolvidas devidamente, devido entre outros factores, a uma indevida preparação inicial dos professores de turma. As actividades artísticas agora remetidas para além das 25 horas vão finalmente ter expressão no currículo...serão leccionadas por docentes devidamente habilitados, não vejo de forma nenhuma uma desvalorização, secundarização e muito menos «actividades não essenciais» ou será que a formação artística não é importante na formação do ser humano?
Dentro ou fora das 25 horas... qualquer hora é boa para aprender!

henrique santos disse...

Palavras para quê
é o curriculo desoculto total!
Santa desinocência.
Perdoem-me a expressão.

AntonioPacheco disse...

Já tive acesso ao despacho da ministra onde ela traça o perfil do professor de música e não é exactamente um qualquer que pode leccionar música... as habilitações são as que nós conhecemos: profissionais e próprias.

saltapocinhas disse...

O Varela tem razão, as actividades não saíram do currículo "normal", são um suplemento. Nem poderiam sair uma vez que o prolongamento do horário não é obrigatório para os alunos...
O António Pacheco demonstra alguma ignorância do que é exigido aos professores do 1.º ciclo. Os prof. do 1.º ciclo leccionam TODAS as disciplinas e têm os conhecimentos exigidos para isso. Já (alguns) não têm para, por exemplo, ensinar a tocar um instrumento e isso parece-me uma actividade interessante que podes ser feita no tal prolongamento. Quanto à educação física eu tenho formação que chegue para dar o básico, não tenho é condições físicas. Podem lá pôr o professor mais bem preparado do mundo que ele vai ter os mesmos problemas que eu!!
Também já li o despacho da ministra e ao contrário do António, não fiquei nada descansada: se ela quer ensino de qualidade devia colocar em cada agrupamento PROFESSORES de música, de plástica, educação física e não, como está a fazer, deixar isso nas mãos de quem calhar. Afinal para que servem os professores??