2005/10/17

Em viagem (1)

Sábado, 15

Às seis e cinquenta da manhã tive a primeira alegria. Não dormi muito, claro, mas estava bem desperto. Pedira que o táxi me fosse buscar pelas 6 e 45 – o que era suficiente, num sábado de manhã, para chegar ao Porto sem problemas. Desde que vim para Braga afreguesei-me a um serviço de táxis, uma estrutura familiar que desde cedo me inspirou muita simpatia. O chefe de família fora emigrante em França, lá fora taxista e a uma dada altura regressou a Braga para tentar a vida no ramo. Com a ajuda dos filhos e do genro singrou, arranjou um pequeno número de carros, e sobretudo cultivou a simpatia (quantas vezes não me foram buscar às cinco da manhã, quando tinha de estar antes das seis no aeroporto! Nos últimos tempos tenho saído muito menos e por isso não tenho usado táxis. Entretanto, o chefe de família faleceu, mas os filhos continuaram o negócio.

Um dos filhos é uma filha: uma filha taxista, sim senhor! Há uns cinco ou seis anos eram ela quem mais me conduzia. Soube da vida dela – triste: enviuvara cedo, ficara com dois filhos pequenos. Mas, naquela altura, tinha um objectivo. Depois de acabar os estudos do secundário, queria seguir um curso de enfermagem. Não foi enfermagem que conseguiu, mas sim um curso de reabilitação físico-motora. Ia todos os dias para Ponte de Lima, fazia umas tantas horas de táxi. Respirava determinação.

Pois bem, disse-me hoje, com alegria, que está a acabar o curso. Passou a todas as disciplinas, fez pois tudo direitinho, e está a pensar em projectos, com colegas, para dar apoio a empresas (mais do que a particulares, e percebe-se porquê). Mas diz que vai continuar com o táxi. Apoio à família, apoio a si própria.

Fiquei contente e a pensar no que pode a força de vontade, a determinação.

Perto das sete e trinta, não direi que tive uma alegria simétrica da anterior, mas tenho de confessar que me senti bem. Perto já do aeroporto Sá Carneiro verificámos que havia alteração de percurso: o caminho indicado para as partidas levar-nos-ia ao último andar da nova gare, que tinha sido aberta à meia-noite.

Cansado das obras sempre que lá ia, recordando que o aeroporto devia estar pronto para o Euro 2004, é óptimo vermos um aeroporto moderno, amplo, muito mais agradável do que o de Lisboa (é preciso um aeroporto novo para Lisboa, já!!!). Pensei nessa altura que nestes tempos de crise, vermos inaugurar aquele conjunto é gratificante. Foi o segundo belo momento, em menos de uma hora…Queriam melhor maneira de começar uma viagem?
Orlando, Florida, Domingo, dia 16...

1 comentário:

saltapocinhas disse...

ainda ontem comentava com uma amiga que às vezes as pessoas que têm a vida mais dificultada são as que conseguem ir mais longe do que aqueles que têm uns papás que pagam tudo e não precisam lutar por nada!